O Estado de S. Paulo

Bancos públicos devem acelerar vendas de ativos

Só no primeiro semestre previsão é vender R$ 60 bilhões, mais que um terço das privatizaç­ões esperadas pelo governo para 2020

- Aline Bronzati Fernanda Guimarães

Os bancos públicos terminarão 2020 com a carteira de ativos ainda mais enxuta no segundo ano do governo de Jair Bolsonaro. Juntos, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES) devem vender, só no primeiro semestre, volume superior a R$ 60 bilhões. Se confirmado, será mais do que um terço, em valores, das privatizaç­ões esperadas pelo governo este ano, ao redor de R$ 150 bilhões.

Em 2019, os três bancos públicos venderam R$ 36,5 bilhões em ativos, conforme balanço divulgado nesta semana pelo secretário especial de Desestatiz­ação do Ministério da Economia, Salim Mattar. Apesar da expectativ­a de que essas instituiçõ­es continuem diminuindo de tamanho, ele voltou a reforçar que o governo não pretende privatizar determinad­as empresas, entre elas BB, Caixa e Petrobrás.

Após a Caixa ter vendido, sozinha, R$ 15 bilhões em participaç­ões diretas em empresas como Petrobrás e BB, a promessa é de que esse movimento seja acelerado neste ano. O processo ganhará musculatur­a com a venda de parte dos ativos detidos pelo BNDES, que colocou no centro de sua estratégia a redução da carteira de renda variável.

A Caixa, ao longo deste ano, não quer perder o ritmo de vendas e promete superar o feito de 2019. Consideran­do todos os desinvesti­mentos feitos, incluindo as participaç­ões do FIFGTS, o banco vendeu cerca de R$ 26 bilhões. Sem revelar a meta para 2020, o presidente do banco, Pedro Guimarães, disse, em entrevista recente ao Estadão/Broadcast, que o foco é entregar número “muito maior”.

Desinvesti­mentos.

Além da Caixa, o BNDES está em plena mudança de trajetória e busca reduzir sua carteira de renda variável, de mais de R$ 100 bilhões. No plano está trabalhar mais em setores como saneamento e iluminação pública, além de infraestru­tura.

No fim do ano passado, o BNDES

deu a largada em seu processo de desinvesti­mento com a venda da fatia na Marfrig, iniciando a saída das chamadas “campeãs nacionais” e embolsou R$ 2 bilhões.

Para os analistas da S&P Global Ratings, Cynthia Cohen e Sergio Garibian, a agenda contínua de desinvesti­mentos dos bancos públicos no governo Bolsonaro é positiva. “A diminuição da influência dos bancos públicos é positiva para diminuir distorções que as instituiçõ­es podem acrescenta­r no sistema financeiro e na economia”, dizem.

Já para o mês que vem, o BNDES prepara uma oferta de ações no Brasil e Estados Unidos para se desfazer das ações com direito a voto (ordinárias) na Petrobrás, em uma operação de cerca de R$ 23,5 bilhões. Ainda na estatal, o BNDES venderá suas ações ordinárias em operações em Bolsa. Só aí o banco possui mais de R$ 30 bilhões, mas as vendas devem ocorrer sem pressa, para não pressionar o valor do papel. Na fila para este ano estão ainda Copel e Tupy.

Bancos de investimen­to.

Desde o ano passado essas vendas vêm animando os bancos de investimen­to, que tiveram em 2019 um de seus melhores anos em termos de receitas.

Para 2020, a projeção dos banqueiros é ainda mais positiva, com estimativa de volume recorde de ofertas de ações, que nas casas mais otimistas já é previsto em R$ 200 bilhões, muito por conta das ofertas capitanead­as pelos bancos públicos.

Ao longo de 2019, o braço de participaç­ões do banco de fomento, o BNDESPar, também fez vendas de ações no mercado, como da Petrobrás e da Vale. No total, as vendas somaram R$ 15,9 bilhões.

“A diminuição da influência dos bancos é positiva para diminuir distorções que instituiçõ­es podem acrescenta­r no sistema financeiro e na economia”.

Cynthia Cohen, Sergio Garibian

ANALISTAS DA S&P GLOBAL RAITINGS

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NILTON FUKUDA/ESTADÃO - 31/7/2019 Empresas. Em 2019, Caixa vendeu R$ 15 bi em participaç­ões

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