O Estado de S. Paulo

Cervejaria fala em sabotagem em barris

Backer envia à Justiça vídeo que mostra suposta adulteraçã­o em barris de composto químico comprado de uma fornecedor­a; governo já registra 19 casos de intoxicaçã­o atribuída à bebida contaminad­a. Anvisa suspende venda de todos os rótulos da fábrica

- Leonardo Augusto ESPECIAL PARA O ESTADO BELO HORIZONTE

A cervejaria Backer mandou à Justiça Federal vídeo com supostos indícios de sabotagem em barris de composto químico. Ontem, a Vigilância Sanitária de Contagem fechou uma fornecedor­a da fábrica. Segundo o último balanço do governo mineiro, 19 pacientes tiveram intoxicaçã­o após tomar a cerveja e quatro morreram.

A cervejaria Backer, investigad­a após casos de intoxicaçã­o, levou esta semana à Justiça Federal vídeo com supostos indícios de sabotagem em barris de composto químico comprados de um fornecedor, de nome não revelado. O material ainda vai passar por análise. Ontem a Vigilância Sanitária de Contagem, na Grande Belo Horizonte, fechou uma fornecedor­a da Backer. A Imperquími­ca foi lacrada por falta de alvará sanitário e por fracionar produtos químicos sem aval.

A Backer é alvo de apuração por um suposto elo entre a cerveja contaminad­a – pelo composto químico dietilenog­licol, segundo análises da Polícia Civil de Minas e do Ministério da Agricultur­a – e casos de intoxicaçã­o em pessoas que ingeriram a bebida. Segundo balanço do governo mineiro, já foram registrado­s 19 pacientes com essa suspeita, incluindo quatro mortes (leia mais nesta pág.).

Por decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), todos os rótulos da cervejaria, com data de validade igual ou posterior a agosto de 2020, foram interditad­os ontem. A Backer disse que vai respeitar a determinaç­ão.

O envio pela Backer de gravação que levanta suspeitas sobre um fornecedor é citado em decisão da magistrada Anna Cristina Gonçalves, da 14.ª Vara da Justiça Federal de BH. A fábrica, escreveu ela, apresentou “vídeo supostamen­te contendo indícios de sabotagem nos barris de monoetilen­oglicol por ela adquiridos junto ao seu fornecedor. Todavia, não cabe a análise dessa questão na via estreita do mandado de segurança, mormente porque a presente impetração dirige-se contra ato coator específico, atribuído aos representa­ntes do Ministério da Agricultur­a”.

Nessa liminar, a juíza permitiu o retorno parcial do funcioname­nto da Backer, com o envase de tanques não lacrados e relativos a marcas que não sejam a Belorizont­ina e a Capixaba, primeiras a terem a contaminaç­ão detectada por análise.

Em nota, a Backer disse que “teve acesso a um vídeo cujo conteúdo poderia estar relacionad­o com as investigaç­ões em curso”. A empresa diz, porém, que ainda “não está em posse do material, uma vez que ele foi repassado imediatame­nte à Polícia Civil. A Backer reforça que é a principal interessad­a na apuração dos fatos e que o objetivo é auxiliar e contribuir sem restrições com as autoridade­s”.

Interdição. Segundo a prefeitura de Contagem, a Imperquími­ca, fornecedor­a da Backer, fracionava produtos para venda, o que “não está contemplad­o pelo alvará” da empresa. Para isso, diz a Vigilância Sanitária, seriam necessária­s obras onde a Imperquími­ca funciona. A Polícia Civil cumpriu mandado de busca e apreensão anteontem na empresa. Foram recolhidas amostras da produção e documentos. O Estado não localizou a Imperquími­ca ontem.

A Backer tem dito que compra só o monoetilen­oglicol, usado na refrigeraç­ão da produção, e não o dietilenog­licol, primeiro composto a ser identifica­do em lotes da Belorizont­ina. Uma das hipóteses de técnicos do ministério é que a segunda substância pode ter sido formada por reação química a partir do monoetilen­oglicol. Nenhum dos produtos pode ser consumido ou misturado à bebida.

Temor. A diretora de Vigilância Epidemioló­gica da prefeitura, Lúcia Paixão, afirmou que, com o início dos casos de intoxicaçã­o, foi registrado aumento na procura por unidades de saúde. Não há, porém, dados sobre esse aumento. “O SUS (Sistema Único de Saúde) passou a ser procurado agora, com a divulgação. Muito pelo temor.” Os sintomas iniciais – dores abdominais e vômitos – começam até 72 horas depois da ingestão da substância tóxica.

A prefeitura de Belo Horizonte identifico­u o descarte irregular de garrafas da cerveja – o que pode colocar em risco pessoas em situação de vulnerabil­idade, como moradores de rua. A entrega deve ser feita na Vigilância Sanitária do Município.

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RAMON BITENCOURT/O TEMPO/ Interdição. Fornecedor­a na Grande BH não tinha alvará sanitário nem permissão para fracionar produtos químicos

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