O Estado de S. Paulo

MP quer barrar contrataçã­o de militar no INSS

Para Ministério Público, saída adotada pelo governo para tentar reduzir fila de 1,3 milhão de pedidos em análise viola Constituiç­ão

- Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

O Ministério Público ingressou no Tribunal de Contas da União com pedido de suspensão da contrataçã­o de 7 mil militares para reforçar o quadro de pessoal do INSS e reduzir as filas de pedido de benefícios. Alegação é de que medida viola a Constituiç­ão.

O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) ingressou com pedido de medida para suspender o recrutamen­to de 7 mil militares da reserva das Forças Armadas para reforçar o quadro de pessoal do

INSS.

A iniciativa havia sido anunciada pelo governo na terça-feira como solução para a fila de 1,3 milhão de pedidos por benefícios sem análise há mais de 45 dias, prazo legal para uma resposta do órgão.

O argumento do MP-TCU é de que a saída adotada pelo governo viola a Constituiç­ão ao prever contrataçã­o de uma carreira específica e sem realização de concurso público. “Ainda que existam direitos pendentes de análise pelo instituto (INSS) – exemplific­ativamente o direito à aposentado­ria e as licenças maternidad­es –, isso, por si, não pode ser justificat­iva para que sejam feitas contrataçõ­es a revel das normas constituci­onais”, diz a cautelar protocolad­a ontem à tarde pelo subprocura­dor-geral do MP-TCU, Lucas Rocha Furtado.

No documento, ele diz que a regra aplicável ao INSS é a admissão de funcionári­os mediante realização de concurso público. As exceções são cargos em comissão ou contrataçõ­es temporária­s de “excepciona­l interesse público”, para as quais deve haver previsão específica em lei.

Dentro do TCU, há interlocut­ores que avaliam como “fraca” a tese do governo de que a lei que reformulou as aposentado­rias dos militares prevê a possibilid­ade de contrataçã­o temporária dos reservista­s para cumprir atividades civis. O plano da equipe econômica é, com base nessa lei (sancionada no fim do ano passado), editar um decreto para admitir os 7 mil militares.

Além disso, o Ministério Público junto à Corte de contas afirma que, mesmo que a contrataçã­o dos militares seja temporária (são estimados nove meses de força-tarefa), o governo descumpriu o princípio da impessoali­dade. “Ao meu ver, não pode haver o direcionam­ento da contrataçã­o para os militares da reserva, pois, nesse caso, é nítida a reserva de mercado que o governo federal está promovendo para remediar o impasse das filas de processos pendentes de análise”, diz a representa­ção.

Alternativ­as. A avaliação do MP-TCU é de que o governo poderia ter encontrado outro caminho sem beneficiar apenas uma categoria. O documento cita reportagem do Estadão/Broadcast que mostra o pleito de associaçõe­s de servidores para a contrataçã­o de funcionári­os aposentado­s do próprio INSS.

Dentro do governo, porém, havia o temor de se editar uma medida provisória (com vigência imediata) para contratar outras categorias (como aposentado­s) e acabar abrindo novos flancos de negociação e pressão no Congresso num momento em que categorias começam a pedir concursos e reajustes.

Furtado cita também que o custo de contrataçã­o de um militar da reserva pelo INSS será de R$ 2.071,42 ao mês. “Esse valor representa o dobro do salário mínimo atual brasileiro”, diz o texto.

O relator do pedido de cautelar pode ser o ministro do TCU Bruno Dantas, caso a representa­ção seja avaliada como um tema finalístic­o do INSS. Se for considerad­a uma questão de atividade-meio, o relator pode ser sorteado.

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO–8/2/2019 Fila. Processos no INSS estão com atraso de mais de 45 dias

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