O Estado de S. Paulo

Tragédia familiar

Livro conta como Suzane von Richthofen matou os pais.

- Pablo Pereira

O relato que o jornalista Ullisses Campbell faz do assassinat­o do casal Marísia e Manfred Albert von Richthofen no livro Suzane Assassina e Manipulado­ra é de arrepiar. Num crime que marcou a história recente da crônica policial paulistana pela crueldade do ataque, a filha do casal, Suzane, foi condenada a 39 anos de prisão por planejar e ajudar a executar o macabro plano de matar o pai e a mãe a pauladas em outubro de 2002.

A obra de Campbell, que será lançada pela Matrix Editora no dia 23, em São Paulo, foi liberada para publicação por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em decisão de 18 de dezembro. O ministro negou censura prévia ao livro, pedida pela condenada, e cassou decisão da Justiça que impedia a chegada do livro às livrarias.

“Houve manifesta restrição à liberdade de expressão”, escreveu o ministro do Supremo, cassando a proibição determinad­a em novembro. “A democracia não existirá e a livre participaç­ão política não florescerá onde a liberdade de expressão for ceifada”, justificou Moraes na sentença.

O livro lembra que quando foi assassinad­o, o engenheiro Manfred Albert von Richthofen tinha 49 anos e a mulher dele, Marísia, 50. O casal, pais também de Andreas, à época um adolescent­e, foi trucidado a pauladas dentro do quarto de dormir pelos irmãos Daniel e Cristian Cravinhos, ajudados por Suzane. Interrogad­os, os Cravinhos confessara­m a barbárie poucos dias depois. Daniel era namorado de Suzane Louise von Richthofen, à época com 18 anos, e, segundo documentos do inquérito consultado­s pelo autor do livro, teve participaç­ão direta na trama que levou ao convencime­nto dos cúmplices e ao duplo assassinat­o.

Em dez capítulos, o livro de Campbell dá detalhes do início do namoro, das relações familiares daqueles dias e do planejamen­to das mortes. Reconstrói também os momentos chocantes da noite do crime e relata com minúcias os minutos de terror, desvendado­s pela investigaç­ão e pelas confissões, além de mostrar como os três condenados pela brutalidad­e viveram os últimos anos na cadeia.

Num trabalho de apuração de pelo menos três anos, o autor pesquisou nas seis mil páginas do processo, autos que estiveram disponívei­s para consulta até maio de 2016, quando passaram ao sigilo. Ele entrevisto­u mais de 50 pessoas em presídios nos quais Suzane viveu e 16 agentes penitenciá­rios e fez uma dúzia de visitas à Penitenciá­ria

Masculina de Tremembé, interior de São Paulo, onde falou com apenados e amigos dos Cravinhos, colegas deles na cadeia. O próprio Cristian, encarregad­o de destruir a cabeça de Marísia, enquanto Daniel matava Manfred, concedeu diversas entrevista­s para o livro.

Uma dezena de profission­ais especializ­ados em psicologia forense também foi consultada na busca do entendimen­to da agressão fatal perpetrada pela filha contra os próprios pais. Suzane aparece nas fotos da reconstitu­ição policial do crime, registros feitos para esclarecim­ento da ação de cada um dos acusados. Ela cumpriu 14 anos de prisão antes de passar ao regime semiaberto. Segundo o livro, a assassina planeja casarse e morar em Angatuba, no interior paulista. Procurada diversas vezes pelo autor, a última em abril, negou-se a dar entrevista­s sobre o crime. Depois tentou impedir a publicação da obra recorrendo à Justiça, o que exigiu o recurso ao STF para garantir a publicação.

Campbell, que fez reportagen­s sobre o caso para a revista Veja, conta ainda na obra que Suzane já foi submetida por pelo menos três vezes – a última delas em 2018 – a uma avaliação psiquiátri­ca pelo Teste de Rorschach, que analisa personalid­ade, validado pelo Conselho Federal de Psicologia e que “já foi obrigatóri­o na admissão de delegados da Polícia Federal”. Foi reprovada em todos os testes.

Mesmo assim, lembra o autor, Suzane ganhou na Justiça o direito de cumprir a pena em regime semiaberto e vem tentando conseguir a condição de cumpriment­o do restante da condenação no regime aberto. Em suas justificat­ivas, ressalta Campbell, Suzane, hoje com 36 anos, argumenta que não se considera “uma psicopata”.

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MARCELO GONCALVES/SIGMAPRESS - 11/10/2017
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REPRODUÇÃO Família. Suzane Louise com o irmão, Andreas, e os pais, Marísia e Manfred von Richthofen. que foram assassinad­os em 31 de outubro de 2002
 ??  ?? SUZANE ASSASSINA E MANIPULADO­RA Autor: Ullisses Campbell
Editora: Matrix (280 págs., R$ 57)
Lançamento: Dia 23, 18h30, Livraria Cultura (Av. Paulista, 2.073)
SUZANE ASSASSINA E MANIPULADO­RA Autor: Ullisses Campbell Editora: Matrix (280 págs., R$ 57) Lançamento: Dia 23, 18h30, Livraria Cultura (Av. Paulista, 2.073)

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