O Estado de S. Paulo

Quem compra o Brasil?

É nesse clima que Paulo Guedes vai ao Fórum Econômico de Davos em busca de investimen­tos.

- E-MAIL: ADRIANA.FERNANDES@ESTADAO.COM ADRIANA FERNANDES ESCREVE AOS SÁBADOS É JORNALISTA

Oassustado­r episódio do vídeo com a fala de inspiração nazista do agora demitido secretário de Cultura Roberto Alvim mostra que a melhora econômica de um País não é suficiente e não pode servir de escudo para aberrações em outras áreas do governo.

Não há como negar que o vídeo, que levou o presidente Jair Bolsonaro a demitir o seu auxiliar e provocou tanta indignação (inclusive de apoiadores do próprio governo), manchou ainda mais a imagem do País.

É bem verdade que a visão do mundo sobre Brasil já era ruim por diversas razões: corrupção, violência nas grandes cidades, política ambiental desastrosa... Mas ficou muito pior nesta sexta-feira depois da repercussã­o do vídeo de Roberto Alvim que parafrasei­a o ministro da Propaganda de Adolf Hitler.

Choca pensar que uma pessoa com esse perfil estava ocupando um cargo importante na área cultural no governo e sendo pago pelo contribuin­te brasileiro.

É verdade que indicadore­s econômicos estão melhores, depois de um período longo de recessão. Uma reforma robusta da Previdênci­a foi aprovada, os juros caíram de forma significat­iva, o crédito aumentando e a atividade econômica apontando uma luz no caminho até agora titubeante da recuperaçã­o. Outras reformas estão no Congresso para serem aprovadas.

É esse retrato que o ministro da Economia, Paulo Guedes, e sua equipe pretendem mostrar no Fórum Econômico Mundial de Davos em busca de atração dos investidor­es para financiar a retoma do cresciment­o mais forte do Brasil.

No ano passado, depois das primeiras semanas de governo, Guedes chegou a Davos com a reclamação repetida à exaustão nos encontros do fórum que imagem ruim do recém-formado governo Bolsonaro era injusta e provocada pela propaganda externa da esquerda brasileira que acabara de perder as eleições no País.

O frustrante discurso de seis minutos do presidente no palco central do encontro, com a presença de outros líderes não ajudou a mudar a fotografia, como queria o ministro.

Pois bem, o ministro planejava agora viver outro momento para mostrar os resultados. Não há impacto imediato dos investimen­tos. Ninguém espera encontros cancelados no fórum. Longe disso. Mas há, sim, preocupaçã­o para economia. Os ruídos trazem desconfort­o.

Investidor gosta de segurança. E eles estão cada vez mais atentos, principalm­ente os grandes fundos de investimen­to, em indicadore­s que vão além da situação financeira e do tamanho do cresciment­o do País. Estão focados também na aplicação de políticas ambientais, sociais e indicadore­s de governança.

Assim como o cidadão comum está cada vez mais atento ao que come e compra, o investidor começa a fazer o mesmo em temas como diversidad­e, meio ambiente, liberdade religiosa.

O Brasil está na contramão em muitos desses temas. O futuro que se vê, no momento, para o Brasil é o de um país não só dividido, mas que mantém a corda esticada o tempo todo.

A perspectiv­a no momento é que esse clima de estresse vai se prolongar e se acirrar ao longo do ano até as próximas eleições. A caminho dos Alpes suíços, Guedes teve que sair a campo. “Estamos indo para Davos para afirmar o vigor da democracia brasileira”.

Quem compra o Brasil? Não dá para dar reset nesta sexta-feira. Não foi coincidênc­ia.

Investidor­es gostam de segurança. E eles estão cada vez mais atentos

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