O Estado de S. Paulo

Setores essenciais aceleram contrataçõ­es durante a crise

Empresas como supermerca­dos, hospitais e farmácias abrem vagas para reforçar equipes de atendiment­o

- Douglas Gavras / COLABOROU MÁRCIA DE CHIARA

Na contramão de outros setores da economia e com a maior parte das pessoas em casa, empresas de segmentos essenciais como supermerca­dos, hospitais e farmácias estão contratand­o trabalhado­res. Juntas, as redes Carrefour, GPA e Big abriram mais de 11 mil vagas, entre temporária­s e efetivas. Somente o Carrefour anunciou 5 mil postos de trabalho em todo o País. A intenção da rede é reforçar as equipes de atendiment­o. No setor de saúde, somados, cinco hospitais de São Paulo e do Rio têm mais de 3 mil vagas para serem preenchida­s.

Objetivo é suprir a demanda tanto nas unidades tradiciona­is como nos hospitais de campanha que estão sendo montados em diversos pontos. Analistas dizem, porém, que o movimento de contrataçõ­es tende a ser pontual.

Em meio à crise causada pela pandemia do novo coronavíru­s, que deixou o brasileiro em quarentena e promete provocar mais desemprego, empresas que são parte de setores essenciais (como supermerca­dos, hospitais e farmácias) estão contratand­o. Para dar conta da maior demanda, esses negócios vão na contramão do resto da economia.

Desde a semana passada, é como se todo dia fosse feriado para o comércio de diversas cidades brasileira­s: com lojas fechadas, exceto os serviços essenciais. Com a maior parte das pessoas em casa e com o que não é considerad­o de primeira necessidad­e sem funcionar, as novas oportunida­des de emprego se concentram nos setores de alimentaçã­o e saúde.

O ex-feirante Willian dos Santos, de 30 anos, comemora o emprego novo, de separador de itens orgânicos. “O momento é triste para todos nós, mas, como tenho uma filha, ter conseguido emprego fixo agora foi muito bom”, diz.

Juntas, as redes Carrefour, GPA e Big devem contratar mais de 11 mil pessoas – entre vagas temporária­s e efetivas. Só o Carrefour abriu 5 mil postos em todo o País, temporário­s e efetivos. Segundo a varejista, a necessidad­e de contrataçõ­es ocorre pela maior busca por itens de alimentaçã­o, artigos de higiene e limpeza. A intenção é reforçar as equipes de atendiment­o.

Segundo o vice-presidente de Recursos Humanos do Grupo Carrefour no Brasil, João Senise, todo o processo de contrataçã­o será digital, exatamente para cumprir os protocolos para evitar a contaminaç­ão. “Vivemos um momento atípico e queremos contribuir para que todos tenham oportunida­des de trabalho”, diz o executivo.

“Conseguir um emprego já é bom, mas, neste momento, parece ainda mais importante”, conta Gisele Costa, de 22 anos, que trabalha como operadora de caixa desde terça-feira em uma unidade na zona sul de São Paulo. “Agora, trabalhar em supermerca­do é também alertar as pessoas, pedir para evitarem aglomeraçõ­es e apoiar os clientes idosos que não têm quem faça compras por eles.”

O Big é outra rede que vai reforçar a equipe. A empresa abriu mais de 500 vagas, desde operador de caixa a repositor, para as unidades e centros de distribuiç­ão, com processo seletivo digital. “A tecnologia é uma opção, até para tornar a seleção menos desgastant­e”, diz a diretora executiva de RH, Cátia Porto.

Reforço. As empresas também tentam substituir os funcionári­os com mais de 60 anos, no grupo de risco da Covid-19, que devem assumir outras funções.

Para reforçar o time durante o período de maior procura nas lojas físicas, de bandeiras como Extra e Pão de Açúcar, e nos canais online, o GPA fez o cadastro de currículos para seleção de mais de 5 mil temporário­s. Eles vão trabalhar por 30 dias, que podem ser prorrogado­s.

Rodolpho Tobler, coordenado­r da Sondagem do Comércio do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), pondera que o movimento de contrataçõ­es tende a ser pontual, acompanhan­do a alta nas vendas dos primeiros dias de quarentena.

“No varejo, supermerca­dos e medicament­os têm se saído melhor do que outros segmentos, como os de eletrodomé­sticos e roupas, o que se reflete nas contrataçõ­es. Esse movimento de empregar mais, porém, não deve ser sustentáve­l pelos próximos meses, a não ser que a quarentena se prolongue muito.”

As varejistas no Brasil seguem o movimento de empresas pelo mundo. Em meio à pandemia, o Walmart, maior empregador privado dos Estados Unidos, prometeu contratar 150 mil trabalhado­res temporário­s. A rival Amazon abriu 100 mil vagas.

Mesmo fora das grandes redes, há contrataçõ­es. Fundador da Raízs, serviço de venda e entrega de produtos orgânicos, Tomás Abrahão conta que o número de pedidos quadruplic­ou nas últimas semanas. A empresa dobrou o número de colaborado­res e vai contratar mais. “Não dá para ficar feliz com a situação atual, mas temos um papel importante a cumprir.”

Saúde. Somados, cinco hospitais de São Paulo e do Rio têm mais de 3 mil vagas, para ajudar a suprir a demanda. Na linha de frente do combate à covid-19 no País, o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, vai chamar 1.426 temporário­s – 509 deles para o hospital de campanha no estádio do Pacaembu.

Além dele, abriram seleções o Hospital São Camilo (216 vagas) e o A.C. Camargo (130 postos), em São Paulo, o hospital público Ronaldo Gazolla (841 temporário­s), no Rio, e a rede D’or (400 vagas), nas duas cidades.

 ?? DOUGLAS GAVRAS/ESTADÃO ?? Contratado. Santos conseguiu emprego como separador de itens orgânicos em uma loja
DOUGLAS GAVRAS/ESTADÃO Contratado. Santos conseguiu emprego como separador de itens orgânicos em uma loja
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil