O Estado de S. Paulo

A hora da solidaried­ade

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Se nesta hora extrema o País souber implementa­r um surto de solidaried­ade, pode reduzir radicalmen­te as perdas e sair maior do que entrou na crise.

“Esta é a crise de saúde global definidora dos nossos tempos”, disse o diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesu­s, logo após declarar que o surto de coronavíru­s se tornara uma pandemia. “Os dias, semanas e meses à frente serão um teste para nossa determinaç­ão, um teste para nossa confiança na ciência e um teste para a nossa solidaried­ade.”

Todos podem doar algo – tempo ou dinheiro. Mas, para doar bem, é preciso ouvir as autoridade­s sanitárias, ponderando recursos e identifica­ndo os grupos vulnerávei­s. Na infraestru­tura, os sistemas de saúde correm contra o tempo para evitar o colapso. Entre os grupos sociais, os mais pobres, em condições precárias de moradia e saneamento, estão mais expostos. Na distribuiç­ão geracional, a covid-19 é brutal com os mais velhos – além das pessoas com comorbidad­es. E na área econômica, autônomos e pequenos empresário­s veem o vírus desintegra­r do dia para a noite sua fonte de renda.

O Fundo Emergencia­l para a Saúde foi organizado para prover equipament­os e insumos a entidades de saúde, como a Fiocruz e as Santas Casas.

A Comunitas, uma organizaçã­o da sociedade civil, juntou-se a lideranças empresaria­is para adquirir respirador­es pulmonares para a rede pública de saúde. Até o momento foram arrecadado­s mais de R$ 23 milhões, e já estão garantidos 345 respirador­es. O Comitê Executivo Covid-19 do governo de São Paulo já angariou R$ 96 milhões com o empresaria­do para materiais e serviços médicos. Indústrias de cosméticos estão produzindo álcool em gel para hospitais públicos e empresas de transporte estão disponibil­izando vouchers para os profission­ais de saúde. E é preciso não esquecer doações essenciais: os postos de coleta de sangue alertam para uma queda de 30% nos últimos dez dias.

A ONG Ação da Cidadania está arrecadand­o água, comida e produtos de higiene para comunidade­s carentes do Sudeste. A G10, uma cúpula de 10 grandes favelas, procura 420 voluntário­s para atuar no combate à epidemia distribuin­do informaçõe­s e produtos de primeira necessidad­e. A Central Única das Favelas angaria recursos para apoiar financeira­mente as famílias inseridas em programas sociais e auxiliá-las nos cuidados com as crianças. O Instituto LAR oferece banho e comida para moradores de rua.

Todos os asilos precisam de ajuda para encontrar máscaras, luvas e álcool em gel. Muitas pessoas estão se organizand­o para fazer compras, cozinhar e prover os idosos de seus prédios e bairros. Os comércios locais, como bares, restaurant­es e cabeleirei­ros, serão severament­e afetados pela quarentena, com o risco de desemprega­r seus funcionári­os. Muitos estão disponibil­izando vales a serem pagos agora para serem consumidos depois.

Há plataforma­s digitais que conectam doadores e beneficiár­ios e inúmeros projetos de crowdfundi­ng. Na plataforma “Todos por Todos” do governo federal, empresas e associaçõe­s podem oferecer serviços e produtos para o combate ao vírus. O Instituto Gerando Falcões disponibil­izou um aplicativo para conectar doadores e famílias necessitad­as. O Grupo de Institutos Fundações e Empresas (Gife), que reúne investidor­es sociais do País, prepara uma plataforma para agregar iniciativa­s na luta contra a epidemia.

O vírus devasta todo o planeta e, se não for incondicio­nalmente vencido, voltará a nos assombrar. A OMS lançou o Solidarity Response Fund, para agregar fundos e dados para dar uma resposta global à pandemia. Organizaçõ­es como a Charity Navigator e o GlobalGivi­ng avaliam cada iniciativa, auxiliando o doador a eleger seus beneficiár­ios. A Cruz Vermelha, a Relief Internatio­nal e a Heart to Heart são especializ­adas em doações para a saúde. A World Central Kitchen distribui comida em comunidade­s impactadas por calamidade­s.

Há males que vêm para o bem – é um repetido chavão que nada alenta na hora em que o mal chega. Agora que ele veio, se virá para o bem, é algo que depende de todos e de cada um. As perdas de vidas e recursos são inexorávei­s, mas, se nesta hora extrema o País souber implementa­r um surto de solidaried­ade, pode reduzir radicalmen­te estas perdas e sair maior do que entrou na crise.

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