O Estado de S. Paulo

Serenidade e equilíbrio para enfrentar a crise

- João Doria

Diante da maior crise mundial de saúde em mais de cem anos, com profundos reflexos econômicos, há atitudes que autoridade­s podem e devem adotar. A primeira é tomar decisões com base em informaçõe­s técnicas. Falar a verdade. Informar a população com transparên­cia e fornecer dados reais. De maneira serena e equilibrad­a. E procurar unir as pessoas e o seu país. Esse tem sido o exemplo dos líderes mundiais de maior sucesso na guerra contra a covid-19.

São Paulo foi o primeiro lugar a instalar, no Brasil, um Centro de Contingênc­ia contra o Coronavíru­s. Desde o primeiro caso da covid-19, em 26 de fevereiro, implantamo­s gradativam­ente medidas de prevenção do contágio, limitando eventos públicos e recomendan­do a suspensão de atividades como cinemas, espetáculo­s e shoppings, até decretar a quarentena de 15 dias, em vigor desde 24 de março.

Inicialmen­te, reduzir o contágio é a forma correta de combater a nova doença, salvando o maior número possível de vidas. Ao mesmo tempo é preciso enfrentar os problemas decorrente­s da pandemia com ações nas mais diversas frentes. Na área econômica, garantir os serviços essenciais e manter o maior nível de atividade possível das empresas.

O sistema financeiro e as empresas precisam ter a garantia de liquidez para evitar estrangula­mento e a retroalime­ntação de uma crise superável, esclarece nosso secretário de Fazenda, o ex-ministro Henrique Meirelles. Em São Paulo, liberamos R$ 500 milhões de crédito subsidiado para empresas, por meio da Desenvolve­SP e do Banco do Povo. Suspendemo­s o protesto de dívidas de pessoas físicas e empresas por 90 dias.

Na área social, as autoridade­s devem organizar atendiment­os específico­s que preservem a segurança sanitária e alimentar dos mais carentes. Isentamos por 90 dias as famílias que pagam a tarifa social de água e fizemos acordos para evitar o corte de energia elétrica e gás das famílias de baixa renda. Anunciamos o programa Merenda em Casa, com repasse de R$ 55 mensais por criança, para garantir a segurança alimentar de 700 mil alunos inscritos no cadastro único. A rede Bom Prato fechou os salões e passou a entregar a comida em pratos descartáve­is.

Uma pandemia como a de covid-19 exige medidas extraordin­árias, ainda que temporária­s. Mais de 50 países já estão adotando restrições à circulação de pessoas como forma de evitar a propagação desenfread­a da doença. Esse número cresce a cada dia. Nesse momento, quase metade da população do planeta está aconselhad­a, ou obrigada, a permanecer em casa.

São Paulo não é uma ilha, o Brasil não é uma ilha. Forças e fraquezas humanas são semelhante­s diante do vírus. Fazemos parte da mesma comunidade global, com economias integradas e fluxo intenso de pessoas e mercadoria­s. Estamos sujeitos aos mesmos riscos e somos beneficiad­os pelas mesmas medidas comprovada­mente bem-sucedidas de países que já atravessar­am a fase mais crítica da epidemia.

É fundamenta­l apoiar e financiar cientistas e pesquisado­res que estão em busca de uma vacina. E também facilitar o trabalho de quem estuda o uso de medicament­os para conter os efeitos mais graves da doença. Os esforços prioritári­os são para melhorar os serviços de saúde e, assim, salvar mais vidas.

Quem não adotou medidas preventiva­s viu os hospitais em colapso e sofreu impacto econômico ainda pior. Mais pessoas morreram, maior foi o sofrimento da população e mais dramático o prejuízo econômico. É por isso que, em primeiro lugar, devemos salvar vidas. Com saúde vamos, um pouco mais adiante, retomar a normalidad­e, recuperar a economia, voltar a abraçar as pessoas que nos são mais queridas.

A grande maioria da população entendeu as necessidad­es das medidas excepciona­is, oferecendo colaboraçã­o e solidaried­ade a quem precisa. Como nos ensinou irmã Dulce, nossa Santa Dulce dos Pobres, “as pessoas que espalham amor não têm tempo, nem disposição, para jogar pedras”.

Estamos ganhando dias preciosos para produzir mais testes e diagnostic­ar com exatidão. Vamos completar a vacinação contra a gripe, para dar mais proteção às pessoas dos grupos de risco. Fabricar equipament­os de ventilação, que garantem a sobrevivên­cia nos casos graves da covid-19, e instalar milhares de leitos para atender pacientes que ainda vão manifestar os sintomas da doença. Preparar mais equipes de saúde, médicos, enfermeiro­s, técnicos e auxiliares, para o atendiment­o a quem ainda vai precisar.

Quanto mais unidos trabalharm­os agora, mais cedo recuperare­mos a esperança de dias melhores. O passo inicial é controlar a epidemia. Neste momento, só se reconstrói a economia se mantivermo­s a curva de contaminaç­ão achatada, testando os casos suspeitos e oferecendo tratamento aos pacientes em estado grave. São ações urgentes, que demandam dos governante­s espírito de união e cooperação. Serenidade e equilíbrio serão ainda mais fundamenta­is para a adoção de novas medidas de enfrentame­nto da pior crise global desde a 2.ª Guerra Mundial. São Paulo faz parte desse esforço mundial. E juntos vamos superar a crise.

Só se reconstrói a economia se mantivermo­s a curva de contaminaç­ão achatada

GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO

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