O Estado de S. Paulo

PROJEÇÕES VIRAM NOVA FORMA DE SE MANIFESTAR

Grupo ‘Projetemos’, que reúne 150 integrante­s, transmite mensagens otimistas e de protesto

- Adriana Ferraz

Em tempos de pandemia e confinamen­to, um novo tipo de protesto passou a acompanhar os panelaços contra o governo Jair Bolsonaro. Projeções feitas em paredões de prédios dão voz às pessoas que, dentro de casa, acham que bater panela é pouco para manifestar indignação política ou alertar sobre os cuidados recomendad­os contra o coronavíru­s.

Em menos de 24 horas, a iniciativa de um produtor de vídeo e de uma cientista política, ambos moradores de São Paulo, ganhou o País. Pelas redes, o Projetemos, que hoje virou um grupo com mais de 150 pessoas, debate diariament­e a pauta das mensagens e compartilh­a arquivo único para projeção, mesmo que de forma caseira, e dicas para obter o melhor resultado.

De acordo com o VJ Felipe Spencer, um dos criadores do grupo, basta baixar as imagens no computador, conectá-lo a qualquer projetor e apontar para uma parede vizinha. As exposições são informais, ou seja, sem autorizaçã­o de condomínio­s ou das prefeitura­s – na capital paulista, a Lei Cidade Limpa proíbe esse tipo de ação.

“Nossa intenção é conscienti­zar as pessoas sobre a situação que estamos vivendo, destacar a posição dos especialis­tas da área médica e protestar contra a postura do governo diante da pandemia.”

Na semana passada, as projeções se tornaram coletivas, diárias (sempre às 20h) e com duas horas, em média, de duração. Nesse período, as mensagens são trocadas, alternando dicas de saúde com críticas políticas. Salvador, Recife, Rio, Belo Horizonte e Brasília são algumas das cidades que já registrara­m ações do Projetemos.

O grupo faz contato, quando possível, com especialis­tas para chegar às frases ideais. O vereador petista Eduardo Suplicy, por exemplo, foi procurado na semana passada para explicar o que é renda básica, programa de distribuiç­ão de renda aprovado pela Câmara como ação emergencia­l para autônomos que estão sem trabalhar. O governo pagará até R$ 1,2 mil por família durante o período da quarentena.

Os participan­tes também tomaram partido na polarizaçã­o mais recente da política brasileira: a necessidad­e de isolamento social para combater a pandemia, defendida por governador­es e negada pelo presidente Jair Bolsonaro. Nas paredes dos prédios, mensagens como “Ei, mano, fica em casa” fizeram defesa do distanciam­ento emergencia­l.

Empatia. Mas nem tudo é protesto. Brunna Rosa, que trabalha como estrategis­ta de redes sociais, diz que o objetivo é também focar na formação de uma rede de afeto. Ela destaca as mensagens otimistas projetadas em todo o Brasil, como “Vai dar tudo certo” ou “Vai passar, fiquem vivos para ver.”

“As nossas projeções são coletivas desde o dia 21. Foi fantástico nesse dia ver uma enorme rede de solidaried­ade e informação se formando”, disse Brunna. “E depois todo mundo manda foto dos bastidores. Tem gente que coloca o projetor em cima

de uma tábua de passar roupa, na pia da cozinha, adaptado num banquinho. Todo mundo pode dar um jeito de usar a arte para quebrar barreiras.”

A repercussã­o ganhou as redes e o grupo começa hoje a ensinar a distância como dar seu recado. Uma live destinada a jovens da Rocinha, uma das maiores favelas do Rio de Janeiro, oferece uma introdução à projeção mapeada. “Mesmo quando essa pandemia passar vamos continuar com as mensagens. Sempre há o que reivindica­r”, diz Spencer.

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NILTON FUKUDA/ESTADÃO Mensagem. VJ Spencer, diante de imagem do Projetemos: ‘A intenção é conscienti­zar sobre a situação que vivemos’
 ?? DIVULGAÇÃO/PROJETEMOS ?? Palavras. Projeção em prédio da Vila Madalena, em São Paulo
DIVULGAÇÃO/PROJETEMOS Palavras. Projeção em prédio da Vila Madalena, em São Paulo

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