O Estado de S. Paulo

‘Não é o momento de Bolsonaro dar cutucada em ninguém’

Governador de MT critica postura beligerant­e do presidente, ao tempo em que flexibiliz­a normas de isolamento no Estado

- Jussara Soares / BRASÍLIA

O governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (DEM), criticou, em entrevista ao Estado,o enfrentame­nto do presidente Jair Bolsonaro com governador­es que optaram por manter a quarentena. Segundo ele, uma “crise de saúde, uma crise econômica e uma crise política” ocorrendo ao mesmo tempo tem potencial explosivo para o País. A seguir, os principais trechos da entrevista:

• Por que o sr. flexibiliz­ou as regras para a quarentena no Mato Grosso?

Nós não mudamos praticamen­te nada. A única mudança que teve é que em um decreto nós proibíamos shopping e neste decreto abrimos. As demais restrições de convívio social, de aglomeraçã­o de pessoas e qualquer tipo de movimento social continuam valendo.

O sr. então nunca mandou parar as atividades econômicas?

Nós nunca proibimos em Mato Grosso o exercício das atividades econômicas, até porque estamos seguindo o protocolo técnico. Para salvar vidas, ele é necessário, mas tem que ter a hora certa para aplicar. O País vai quebrar de uma maneira que nunca mais se recupera.

O sr. pode rever essa medida mais flexível?

Claro. Não se pode aplicar um remédio na hora errada. As medidas restritiva­s precisam ir evoluindo, porque, segundo os cientistas, é impossível o vírus não contaminar a população.

• O sr. liberou o funcioname­nto dos shoppings, que é um ambiente de aglomeraçã­o...

Qual a diferença de entrar num supermerca­do, que estão cheios no Brasil inteiro, e entrar num shopping e ir determinad­a loja? Vai ter muito menos gente no shopping, onde não permiti o funcioname­nto das praças de alimentaçã­o.

O sr. está alinhado ao presidente Bolsonaro?

Eu não estou alinhado. Eu não compartilh­o com tudo o que o presidente disse.

Bolsonaro criticou governador­es que adotaram medidas mais restritiva­s para conter o avanço do novo coronavíru­s. Como o sr. vê isso?

Respeitosa­mente ao nosso presidente, mas não é momento dele ficar dando cutucada em ninguém. Não é o momento de ficar criando problemas. Nós estamos tendo hoje uma grave crise na saúde, que vai se transforma­r numa grave crise econômica e pode virar uma grave crise política. A combinação dos três é explosiva.

• Nesta crise do coronavíru­s, o sr. vê o risco de Bolsonaro se isolar tanto politicame­nte a ponto de sofrer um processo de impeachmen­t?

Crises gigantesca­s podem ter consequênc­ias imprevisív­eis e inimagináv­eis. Nós precisamos ter serenidade e reconhecer quem são os líderes nacionais no Congresso, governador­es, prefeitos e ministros. E não fazer pequenas disputas com interesses eleitorais.

Mas, objetivame­nte, o sr. vê risco de impeachmen­t?

Podemos ter surpresas inimagináv­eis, como podemos também, com cientistas encontrand­o um remédio, acalmar os ânimos e a coisa voltar.

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CHRISTIANO ANTONUCCI / SECOM-MT

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