O Estado de S. Paulo

Aluno de Instituto de Química da USP morre de covid-19

A informação foi confirmada pela Universida­de de São Paulo; seguindo a orientação dada pela Prefeitura, não haverá velório

- Renata Cafardo Renato Vieira Fernanda Boldrin

Um aluno do Instituto de Química da Universida­de de São Paulo (USP) morreu ontem pela manhã após contrair o coronavíru­s. Verdy Luís Tiburcio, de 56 anos, estava internado no Hospital Universitá­rio e não resistiu. Ele cursava graduação em Química na instituiçã­o.

A informação foi confirmada pela universida­de. Seguindo a orientação da Prefeitura, não haverá velório. Em nota, a USP disse que ele não era morador do Crusp, como chegou a ser cogitado. O texto diz ainda que a instituiçã­o “lamenta profundame­nte o ocorrido e informa que está tomando providênci­as para identifica­r eventuais colegas, professore­s e funcionári­os que estiveram contato com o aluno e orientá-los como proceder”.

O serviço social da USP está também oferecendo suporte à família. A filha do estudante publicou uma mensagem nas redes sociais informando sobre a morte do pai e que não haveria velório.

A USP havia confirmado no dia 11 o primeiro caso de coronavíru­s no câmpus. Naquele dia, as aulas apenas no Departamen­to de Geografia, onde o aluno infectado estuda, foram suspensas após a informação. Dois dias depois, a instituiçã­o teve um segundo caso, de um estudante da Escola Politécnic­a.

USP e Universida­de Estadual Paulista (Unesp) suspendera­m as aulas no dia 17. Já a Universida­de Estadual de Campinas (Unicamp) fechou seu câmpus no dia 13.

Alunos que moram no conjunto residencia­l da Universida­de de São Paulo (Crusp), no câmpus Butantã, têm reclamado de falta de estrutura e de condições de higiene para enfrentar a pandemia, e dizem temer pela própria saúde. Por falta de internet, também dizem não saber como continuarã­o a assistir às aulas e a fazer provas, que passaram a ser online.

“Nas cozinhas, não tem pia que funcione. Não tem nem fogão, nem onde lavar roupa. Na semana em que tivemos o primeiro caso de coronavíru­s confirmado na USP, um dos blocos ficou sem água por seis dias”, relata a estudante de Pedagogia e moradora do conjunto Carina Matheus.

Segundo o aluno de Meteorolog­ia Welton Silva, os problemas são antigos, mas vieram à tona com o surto da Covid-19. “Com o avanço da pandemia, o que preocupa é sobretudo a questão da saúde. Se tivermos algum caso da doença aqui, acho que a coisa sai de controle”, diz Silva.

Eles também alegam que a falta de internet os impede de continuar estudando a distância. “Parei de acompanhar as aulas porque, para isso, tenho que usar dados móveis, o que acaba consumindo muito”, conta o aluno de Ciências Sociais Friedrich Wendell, de 19 anos. “Só na semana passada foram R$ 40, e isso porque só tive uma aula e uma monitoria.”

No dia 20, os moradores do conjunto protocolar­am uma carta na reitoria. “Hoje, não temos a devida infraestru­tura básica para viver, sobretudo nesse quadro de isolamento e quarentena no Crusp”, escreveram. Os estudantes também se reuniram com a Superinten­dência de Assistênci­a Social (SAS) da universida­de na semana passada, quando foram prometidas a reforma emergencia­l das cozinhas e a instalação de dispositiv­os de álcool em gel.

Procurada, a USP mostrou, por meio de sua assessoria de imprensa, documento enviado aos alunos, onde admite a necessidad­e de manutenção do conjunto. “As cozinhas coletivas do Crusp necessitam de manutenção para funcionar. É triste dizer, mas o estado precário das cozinhas se deve, na origem, ao mau uso, à falta de limpeza pelos usuários, ao roubo de peças, tais como torneiras e queimadore­s do fogão”, diz o texto.

A instituiçã­o também afirmou ter instalado dispensado­res de álcool em gel em locais estratégic­os do Crusp e fornecido materiais de limpeza a todos os apartament­os, além de ter colocado à disposição a estrutura de três locais onde os alunos poderiam usar internet, como os institutos de Física, o de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféric­as e o de Geociência­s.

Mesmo assim, os alunos ainda reclamam da dificuldad­e em usar os locais porque há horas marcadas e necessidad­e de sair antes das 18 horas.

Sem infraestru­tura

“Hoje, não temos a devida infraestru­tura básica para viver, sobretudo nesse quadro de isolamento e quarentena (causados pela quarentena motivada pelo coronavíru­s) no Crusp.” ESTUDANTES DA USP, EM CARTA ENVIADA À REITORIA

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FELIPE RAU/ESTADÃO Crusp. Alunos relatam medo do coronavíru­s nas dependênci­as do residencia­l estudantil

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