‘Fazer previsão sem dados não é ciência’
Alexandre Chiavegatto Filho crê que a inteligência artificial (IA) poderá ter um papel muito importante contra o coronavírus. Diretor do Laboratório de Big Data e Análise Preditiva em Saúde (Labdaps) da Universidade de São Paulo (USP), que desenvolve pesquisas de IA em saúde, ele e seu time estão de plantão à espera dos dados para treinar algoritmos locais. Segundo ele, os sistemas poderão ajudar hospitais a priorizar leitos ou fazer diagnósticos que podem compensar a escassez de testes para a covid-19.
Como a IA pode ser usada agora para combater o coronavírus?
Ela pode ser usada em todas as áreas que precisem de decisões inteligentes, como priorizar leitos de UTI. É uma forma de predição: quais pacientes vão se beneficiar mais ao serem transferidos para UTI? Testes também são importantes: não existe teste para todos, então é preciso fazer planos de predição para priorizar quais pacientes podem dar positivo. A IA pode ajudar a predizer gravidade e ajudar com a intervenção apropriada para diferentes pacientes.
Por que isso não está sendo usado agora?
A IA demorou para entrar na conversa da covid-19 porque precisamos de dados de qualidade. Até agora, não tínhamos dados confiáveis. Fazer previsão sem dados não é ciência, é opinião. O aprendizado de máquina precisa de dados do passado para entender regras e projetar o futuro.
Dados de outros países não podem ajudar?
A China não tem histórico de transparência de dados, então perdemos essas informações. Agora, começam a chegar dados de outros países. O problema é que outros países têm distribuições socioeconômicas, demográficas e genéticas diferentes do Brasil. Porém, o número de exames e casos no País traz potencial para fazermos algoritmos que se adequarão melhor à realidade local.
Dará tempo de usar os algoritmos no Brasil durante a crise?
Sim. Nosso grande desafio é conseguir os dados, estamos de plantão aguardando as informações de hospitais. Estamos nos preparando há anos para uma emergência como essa.