O Estado de S. Paulo

‘SENSAÇÃO É DE QUE TIVEMOS UM FILHO NO MEIO DA GUERRA’

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Fabio Serafim, 41 anos, gerente de Marketing

“Eu preciso dizer que a ficha demorou para cair. Quando a gente ainda estava em janeiro, o coronavíru­s parecia algo tão distante, uma notícia que fazia parte do noticiário internacio­nal, lá de longe, da China. Então, eu e a Ingrid, minha mulher, não pensávamos na questão.

Mas tudo andou rápido demais. Há três semanas, nos demos conta de que teríamos um filho no meio de uma pandemia mundial. Minha mulher conseguiu adiantar o parto, que seria no dia 25 de março, para o dia 21. Achamos que era melhor adiantar – já que a cada dia que passa o número de infectados dobra.

Mais do que isso, o nosso plano de saúde não é muito bom. Nós fomos para um hospital que não era apenas uma maternidad­e, mas um hospital normal. Aliás, para chegar à maternidad­e, tivemos de entrar pelo PS e, então, subir para a maternidad­e. E isso tudo mesmo tendo agendado com antecedênc­ia!

Sair de casa para ir até o hospital foi uma aventura. Foi como atravessar uma cidade em que o vírus estava no ar.

Felizmente, o próprio hospital proibiu a visita de parentes e amigos. Apenas eu e minha mulher ficamos no quarto. Foi um alívio muito grande, porque a gente sabe que muita gente não tem consciênci­a e poderia querer visitar o Felipe, meu filho recém-nascido. Passamos na casa do meu sogro de carro. E, de dentro do carro, mostramos o bebê. Ou seja, meu sogro viu o neto apenas pela janela da casa dele. Além disso, mandamos fotos e vídeos para grupos de parentes no WhatsApp e fizemos lives também.

A sensação é de que tivemos um filho em período de guerra.

Você quase não pode sair para comprar coisas, minha mulher acaba de sair de uma cesariana e estamos vivendo toda as dificuldad­es que já estariam presentes mesmo sem pandemia.

Agora, em casa, estamos com o cabelo em pé. Temos também uma filhinha de 2 anos, a Sofia. Ela é agitada e, claro, quer atenção o tempo inteiro. Minha mulher ainda está com algumas dores... Tem sido difícil lidar com tudo isso. O neném não dorme e estamos virados. Felizmente, eu emendei licença-paternidad­e com férias mas, ainda assim, resolvo muitas coisas do trabalho a distância.

Só saio para coisas pontuais. Fui à farmácia e saí de máscara, com álcool em gel e todo um esquema de guerra.

Falei com a minha mulher que o que estamos vivendo hoje é histórico. É o tipo de coisa que vamos contar para o Felipe pelo resto da vida. Lembro dos meus avós contando quando eles saíram da Itália depois da guerra, falam que não tinha comida... É um momento histórico que vai marcar a história do meu filho e de todos nós.” DEPOIMENTO A GILBERTO AMENDOLA

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Dificuldad­e. Fabio, a mulher e os filhos: ‘Esquema de guerra’

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