‘RASGUEI A PLANILHA DOS MEUS FILHOS E DEIXEI ROLAR’
Kika Hissa, 38 anos, chef e mãe de 3 crianças
“Logo quando começou a quarentena, na semana passada, eu me ‘planilhei’ toda. Fui para o computador e montei uma escala, com horários, de atividades de cada um dos meus três filhos. Eu queria me organizar. Cheguei a apresentar a planilha para eles. Mas o que aconteceu? Percebi que eles estavam com preguiça de seguir as regras. Às vezes também ficavam tristes, porque queriam ver os amigos, sentiam saudade da escola.
Daí, achei muito melhor cuidar da parte emocional das crianças do que criar uma rotina. Deixo eles falarem um pouco no celular com os amigos, brincar a hora que quiserem. Jogamos um baralho juntos e até o pequeno, que não podia ver TV, agora pode. Rasguei a planilha e estou deixando rolar, porque o clima fica mais leve.
Meus filhos têm idades diferentes e é difícil coordenar. O João, de 1 ano e meio, é praticamente um bebê. O mais velho, Bernardo, tem 13 anos, é um adolescente. E o Joaquim, o do meio, tem 10 anos, ainda é criança. Tem de tudo nesta casa... Até uma cadela, a Bagunça… Aqui é quase um jardim zoológico.
Depois dessa tentativa frustrada de estabelecer uma rotina a ser seguida à risca, estou controlando apenas os horários de dormir, por volta de 22h30, e acordar, até as 9h, e de fazer as refeições e atividades da escola, sempre pela manhã. O resto do tempo eles estão livres para brincar. Meu filho mais velho faz aulas online. O do meio, a professora manda as atividades que ele tem de fazer.
Meu marido, que é diretor financeiro de uma escola, está em casa, mas em home office e trabalhando enlouquecidamente. Somos cinco, mais uma cadela. Estou sem a faxineira e a moça que me ajudava com o João para eu poder trabalhar. Dou aulas de culinária em residências e numa clínica de pediatria e saúde da mulher. A clínica fechou, mas antes disso eu já tinha cancelado as atividades.
A arrumação da minha casa varia: tem dia que está limpa, tem dia que não está. Tem dia que a gente arruma cama, tem dia que não. Vai de acordo com o que dá. A prioridade é estar todo mundo bem, feliz, sem estresse.
Acabei estabelecendo algumas regrinhas para as crianças. Cada dia um lava roupa, a louça que usa. No sábado, o mais velho limpa o banheiro, e por aí vai. Acho que esse é o jeito mais leve de enfrentar essa fase. Não sei se a coisa vai se estender por muitos meses e se terei de adotar uma rotina mais rígida.
O importante é ter consciência de que sou privilegiada. Estou no melhor lugar do mundo, a minha casa, ao lado das pessoas que amo. O resto é tentar manter a calma.” DEPOIMENTO A MARCIA DE CHIARA