O Estado de S. Paulo

MEMES ALÍVIO PARA O ESTRESSE

Para especialis­tas, esse tipo de humor garante diversão e ajuda a manter a saúde mental

- Gilberto Amendola

Com mais gente dentro de casa, passando muitas horas em frente ao computador e, eventualme­nte, com horas livres ou de puro ócio, a produção e a proliferaç­ão de memes parece ganhar força. Ao mesmo tempo, em momentos de crise ou até tragédias, nosso senso de humor (ou seria nossa falta de noção?) se manifesta com todas as suas armas mais criativas e ácidas.

Pode procurar na história recente, você vai encontrar memes sobre qualquer grande evento mundial. Não é importa se é uma guerra, um tsunami, ataque terrorista, enchente e etc.

Claro, com a epidemia de coronavíru­s não seria diferente. Certamente você já leu algo com “tem tanto álcool na minha mão que meu fígado está com ciúmes” ou viu aquele meme do próprio coronavíru­s chegando ao Brasil e dizendo que “se soubesse que era assim ele nem vinha”.

Um estudo feito pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas

da Fundação Getúlio Vargas sobre o comportame­nto dos brasileiro­s nas redes sociais em relação à nova doença mostrou que o Brasil é o quarto país que mais comenta sobre o novo coronavíru­s em todo o mundo (o vírus tem cerca de 3,3 milhões de menções no mundo). Um aspecto da pesquisa chamou a atenção dos pesquisado­res: 34% das menções eram imagens considerad­as engraçadas pelos internauta­s, os tais memes. O número ultrapasso­u os tuítes de notícias, que somavam 17%.

O pesquisado­r e doutorando em ciência da comunicaçã­o pela USP, Douglas Calixto, tem estudado a produção de memes e concorda que, em um momento como o que estamos vivendo, o humor na internet é uma arma. “O meme tem algumas dimensões. Essa que é do deboche e da paródia é própria da linguagem da internet. Além de tirar sarro e fazer brincadeir­as, eles são autoexplic­ativos, visuais, curtos. Eles geram riso e entretenim­ento neste momento em que o mundo todo está preocupado”, contou.

Calixto acrescenta que a expressão cômica dos memes vem recheada de críticas sociais e reflexão. “Um exemplo disso foi o depoimento do presidente Jair Bolsonaro em cadeia de rádio e TV. Ele foi muito fértil para os memes – tanto para quem era contra ou a favor aquilo que estava sendo dito”, comentou.

Para ele, as pessoas estão cansadas de análises de conjuntura. “O meme quebra a lógica da coisa mais pesada e densa. Ele é suficiente para abraçar toda uma reflexão que se impõe no curto prazo”, concluiu Calixto.

Para o professor de estudos de Mídia da Universida­de Federal Fluminense e coordenado­r do Museu de Memes, Viktor Chagas, os memes de humor cumprem um papel fundamenta­l. “Eles funcionam como o alívio cômico neste momento de tanta ansiedade. Mais do que isso, sem romantizar a quarentena, é preciso dizer que os memes contribuem para a manutenção dos laços sociais. Essa é uma função relevante que esse tipo de conteúdo pode cumprir.”

Os “consumidor­es” de meme atestam a importânci­a desse instrument­o de humor. Para a farmacêuti­ca Hellen Kin, de 28 anos, os memes aliviam a crise do coronavíru­s. “É uma válvula de escape – principalm­ente em relação às notícias diárias e tudo o que a gente está vivendo”, comentou. Já para o publicitár­io Matheus Roriz, de 29, é difícil manter a leveza neste momento. “Mas acho que o brasileiro tem o dom. Nós transforma­mos tudo em piada. Vejo os memes gringos, e tem muita discrepânc­ia. Somos os melhores nisso”, afirmou.

O psicólogo educaciona­l Augusto Jimenez contou que o indivíduo com humor “passa por situações difíceis de uma maneira melhor”. Para Jimenez, o humor é uma caracterís­tica brasileira e que pode se refletir na saúde da população. “Melhora a nossa pressão arterial, o colesterol, aumenta o sistema imunológic­o e, claro, nossa saúde mental. Assim, o humor, os memes, nos ajudam a passar da melhor maneira possível por uma crise como essa”, disse.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil