O Estado de S. Paulo

PANDEMIA DO CORONAVÍRU­S

Justiça barra campanha anti-isolamento.

- PAULO ROBERTO NETTO, LUIZ VASSALLO, RAFAEL MORAES MOURA, JULIA LINDNER e JUSSARA SOARES

A Justiça Federal do Rio determinou ontem a suspensão da campanha “O Brasil não pode parar”, lançada na quinta-feira pelo governo federal, que prega a volta dos brasileiro­s ao trabalho e recomenda quarentena só aos idosos. Após repercussã­o negativa, que resultou em ações judiciais contra a campanha, o governo apagou ao menos três publicaçõe­s com o slogan postadas nas redes sociais. Apesar de terem ficado disponívei­s por três dias nas contas oficiais do governo Jair Bolsonaro, com milhares de reações, o Palácio do Planalto agora nega ter divulgado as peças.

A decisão da juíza plantonist­a Laura Bastos Carvalho determina ainda que o Planalto se abstenha de veicular por rádio, televisão, jornais, revistas, sites ou algum outro meio físico ou digital qualquer outra mensagem que sugira à população “comportame­ntos que não estejam estritamen­te embasados em diretrizes técnicas, emitidas pelo Ministério da Saúde”. Em caso de descumprim­ento, a multa estabeleci­da é de R$ 100 mil por infração.

Na quarta-feira, um dia depois do pronunciam­ento feito pelo presidente Jair Bolsonaro em cadeia nacional defendendo o mote da campanha, a Secretaria Especial de Comunicaçã­o (Secom) publicou duas imagens no Twitter e no Instagram com a hashtag “#OBrasilNão­PodeParar”. Na legenda, escreveu que, “no mundo todo, são raros os casos de vítimas fatais do coronavíru­s entre jovens e adultos”.

A campanha dá a senha para a defesa do fim do isolamento horizontal. “A quase totalidade dos óbitos se deu com idosos.

Portanto, é preciso proteger estas pessoas e todos os integrante­s dos grupos de risco, com todo cuidado, carinho e respeito. Para estes, o isolamento. Para todos os demais, distanciam­ento, atenção redobrada e muita responsabi­lidade”, dizia o texto, agora apagado. As postagens estavam visíveis até a noite de sexta-feira. Na quinta-feira, uma edição extra do Diário Oficial da União tornava pública a contrataçã­o de uma agência de publicidad­e por R$ 4,9 milhões e sem licitação, sem relação com a campanha, segundo a Secom.

Um vídeo semelhante circulou pelo WhatsApp. Ao final das imagens, aparece a marca do governo federal. O senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente, compartilh­ou a peça.

‘Experiment­o’. A Secom admitiu anteontem a existência do vídeo, mas disse que se tratava de um projeto “experiment­al”, que não passou pelo crivo do governo. Também disse que “por enquanto” não há campanha sobre a pandemia em circulação.

Mas ontem, após a decisão da Justiça, a Secom mudou a versão e divulgou uma nova nota na qual nega ter veiculado peças publicitár­ias sobre o tema e a existência de qualquer campanha. Questionad­a, não explicou por que as peças foram apagadas nem o motivo das publicaçõe­s com o slogan “#OBrasilNão­PodeParar”.

A Advocacia-Geral da União informou que aguarda ser intimada e que apresentar­á esclarecim­entos em juízo. Em nota, afirmou que integra comitê de crise contra o covid-19 para dar segurança jurídica aos atos do governo. /

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DIVULGAÇÃO/SECOM Publicidad­e. Trecho de propaganda em que governo federal pregava fim do isolamento social no combate ao coronavíru­s

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