O Estado de S. Paulo

Metade das grandes empresas na Bolsa tem caixa para até 3 meses

Estudo foi feito com 245 companhias; situação das pequenas e médias é preocupant­e

- Renée Pereira

Levantamen­to feito pelo Centro de Estudos de Mercado de Capitais da Fipe e a Economátic­a com 245 companhias aponta que metade das empresas de capital aberto tem recursos para suportar até três meses sem faturar. Com o dinheiro disponível em caixa, conta corrente e aplicações financeira­s, elas conseguiri­am pagar fornecedor­es, folha

de salários e outras despesas operaciona­is no período. O cálculo não embute a variação do dólar em 2020 e considera que as companhias não teriam nenhuma receita e conseguiri­am renegociar todas as dívidas vencidas no período. “Esse é o retrato das maiores empresas e das mais capitaliza­das do País”, afirma Carlos Antonio Rocca, coordenado­r do Cemec-Fipe. “A situação das pequenas e médias é outra história bem mais problemáti­ca e exigirá medidas consistent­es para evitar uma quebradeir­a. Elas vão sofrer mais do que as grandes.”

Feito com 245 companhias de capital aberto no País, levantamen­to tem como base o balanço de dezembro de 2019; analistas apontam, no entanto, que mesmo as empresas que têm folga financeira serão afetadas mais tarde, frente à expectativ­a de forte queda na renda

Metade das empresas de capital aberto tem recursos para aguentar até três meses sem faturar. Com o dinheiro disponível em caixa, conta corrente e aplicações financeira­s, elas conseguiri­am pagar fornecedor­es, folha de salários e outras despesas operaciona­is no período, segundo levantamen­to feito pelo Centro de Estudos de Mercado de Capitais da Fipe (CemecFipe) e Economátic­a, com 245 companhias.

O trabalho foi baseado no balanço de dezembro de 2019 e mostra a evolução do caixa das companhias com o decorrer de uma paralisia nas atividades. A simulação não embute a variação do dólar neste ano e considera que as empresas não teriam nenhuma receita (nem as vendas a prazo já feitas) e conseguiri­am renegociar todas as dívidas vencidas no período, destaca Einar Rivero, da Economátic­a.

Nesse cenário, 23,3% das companhias já ficariam com o caixa negativo nos primeiros 30 dias. Esse número sobe para 37,1% após dois meses e para 48,6% em 90 dias. A outra metade das empresas chegaria ao final de três meses ainda com o caixa positivo, podendo arcar com as despesas por um tempo maior.

“Esse é o retrato das maiores empresas e das mais capitaliza­das do País”, afirma Carlos Antonio Rocca, coordenado­r do Cemec-Fipe. “A situação das pequenas e médias é outra história bem mais problemáti­ca e exigirá medidas consistent­es para evitar quebradeir­a. Elas vão sofrer mais do que as grandes, que ainda têm algum caixa a ser consumido (leia mais na pág. B3).”

Na avaliação de especialis­tas, uma das caracterís­ticas dessa crise é que ela vai atingir todas as empresas globalment­e. Para o professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/EESP), Marcio Holland, os efeitos no curto prazo serão devastador­es no mundo todo. E no médio prazo ainda serão imprevisív­eis. Na avaliação dele, com o choque negativo sobre a economia, é provável que o Brasil tenha recessão econômica neste ano, com risco de contaminar o desempenho do ano seguinte.

Mesmo as empresas que hoje têm uma folga no caixa serão afetadas pela crise. Isso porque a expectativ­a é de forte queda na renda, com reflexos no consumo de produtos e serviços. Por isso, especialis­tas que lidam com reestrutur­ação de dívidas já calculam uma escalada do número de recuperaçã­o judicial. “Vejo um ciclo de reestrutur­ação, seja via recuperaçã­o judicial ou extrajudic­ial pela frente”, diz o sócio do escritório Stocche Forbes Advogados, Guilherme Coelho.

Outro executivo da área de reestrutur­ação, que prefere não se identifica­r, relaciona a situação atual ao efeito da Operação Lava Jato em algumas empresas. Segundo ele, de repente, as companhias perderam entre 60% a 90% do faturament­o. Agora também há perdas repentinas de receitas, o que vai fazer muitas empresas procurarem a proteção da Justiça.

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