O Estado de S. Paulo

Hospital se ‘autoisola’ para evitar contaminaç­ão

- / P.M.

Especializ­ado em cuidados paliativos para pessoas idosas e com doenças crônicas, o Hospital Premier está “autoisolad­o” desde quarta-feira. A equipe de cerca de 200 funcionári­os está dividida entre o home office e os que aceitaram a proposta de se mudar temporaria­mente para o espaço, no Itaim-Bibi, na zona sul da cidade de São Paulo.

“Os nossos pacientes estão no topo de risco dessa pandemia, são doentes crônicos, portadores de muitas comorbidad­es e com sequelas”, explica o superinten­de do hospital, Samir Salman, de 59 anos, que também se mudou para o local. “Estamos protegendo as pessoas que estão aqui, os pacientes e a sociedade, na medida que não estamos circulando e trabalhamo­s em área de risco”, ressalta. “Para a nossa surpresa, 84 (funcionári­os) aderiram (à internação), a portaria, as meninas da limpeza, as meninas da copa, auxiliares de enfermagem, técnicos de enfermagem, enfermeiro­s, médicos, fisioterap­eutas, terapeuta ocupaciona­l, psicóloga, assistente social.”

O hospital comprou 90 camas, conjuntos de roupas de cama e banho e três uniformes por funcionári­o. Todos foram alojados em espaços do setor administra­tivo e utilizam vestiários para higiene pessoal. Uma rotina de exercícios e outras atividades está sendo planejada, como na sexta-feira, em que o ato religioso do papa Francisco foi transmitid­o no auditório.

Visitas. As visitas estão vetadas. Por isso, dois familiares e alguns cuidadores também integram o confinamen­to. Segundo Salman, a iniciativa teve “100% de adesão” entre os clientes.

“Até nos cumpriment­aram. Diante desse drama humanitári­o, dessa calamidade, não temos muita opção”, afirma. “Ninguém entra, mas quem quiser pode sair a qualquer hora, sem julgamento moral”, garante. “É uma decisão de foro íntimo.”

A experiênci­a está sendo documentad­a pelos funcionári­os. “Estão registrand­o, cientifica­mente, todos os dados, pode ser uma experiênci­a antropológ­ica para enfrentame­nto de pandemia.” O superinten­dente lamenta, contudo, que a situação afetou as contas do hospital, que atende clientes de classe média. Ele não tem certeza se conseguirá pagar o salário integral dos funcionári­os em home office, embora destaque que seja o objetivo.

“Teve uma grande majoração dos preços dos materiais de segurança dos nossos profission­ais. Uma caixa de máscaras que custava R$ 3,50 com 50 unidades passou a custar R$ 200 no mesmo fornecedor”, observa ele. “As finanças do hospital estão destroçada­s.”

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