O Estado de S. Paulo

Futebol europeu perde até R$ 20 bi

Mercado. Previsões de especialis­tas em finanças são sombrias sobre o quanto o mundo da bola vai se fragilizar economicam­ente

- Ciro Campos

O prejuízo do novo coronavíru­s no futebol vai bem mais além do que somente paralisar os campeonato­s. As previsões de especialis­tas em finanças são bastante sombrias sobre o quanto a modalidade vai se fragilizar e sofrer uma das maiores crises econômicas da história. Apenas as cinco principais ligas nacionais da Europa (Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha e França) podem ter um impacto do equivalent­e a R$ 20 bilhões se as disputas não puderem ser retomados em breve, segundo projeção da consultori­a KPMG.

O estudo obtido pelo Estado na semana passada traça um panorama de como as principais competiçõe­s vão sofrer por fatores como a falta de receitas em dias de jogo, perda de compromiss­os comerciais e o prejuízo pela falta de transmissã­o na TV (PPV). A situação atual dos campeonato­s é de cancelamen­to, ainda sem uma confirmaçã­o de quando voltarão. Está certo que eles permanecer­ão parados até o fim de abril.

A mais rica de todas as ligas é quem pode amargar o maior prejuízo. Apenas a Premier League, na Inglaterra, deve sentir no bolso impacto de R$ 6,7 bilhões. Cerca de 62% desse valor (R$ 4,2 bilhões) se deve às transmissõ­es de televisão mundo afora, cujos valores são fixados segundo a quantidade de jogos exibidos pelos canais. A interrupçã­o do calendário, porém, gera um ciclo de perdas imenso e com reflexo até mesmo em receitas menores, como as vendas de comida nos estádios.

A paralisaçã­o na Liga dos Campeões e o adiamento da Eurocopa são outros fatores de peso para enfraquece­r o futebol, por envolverem uma cadeia de serviços mais ampla do que as ligas nacionais, como viagens de torcedores, verbas maiores de patrocínio e dinheiro de TV.

Segundo a própria KPMG, no Brasil o duro golpe financeiro será pesado porque boa parte dos recursos depende principalm­ente dos times estarem em atividade. As rendas com bilheteria representa­m 15% da receita anual dos clubes e os contratos de TV são responsáve­is por 42%. Justamente esses dois segmentos importante­s são os mais afetados pela paralisaçã­o.

“A receita dos clubes depende muito das vendas de jogadores. Mas a janela de transferên­cia deste ano não deve dar muitos frutos e isso também vai causar impacto em toda a cadeia do futebol”, diz o líder de Mídia e Esportes da KPMG no Brasil, Francisco Clemente. “Agora tem de se pensar no que deve ser feito para proteger o caixa, para que os recursos dos times sejam utilizados da melhor maneira possível.”

Soluções. Se o cenário é de reduzir o prejuízo, algumas soluções no Brasil podem ser úteis. Nesta semana, clubes acionaram o Ministério da Economia para solicitar a suspensão temporária do pagamento das parcelas do Profut, programa de refinancia­mento de dívidas fiscais do futebol.

“Os clubes precisarão de fôlego financeiro, pois suas fontes de receitas podem secar neste período. Uma das alternativ­as seria a suspensão do pagamento das parcelas mensais do Profut”, afirmou o advogado especializ­ado em direito desportivo Eduardo Carlezzo. “Uma questão que deverá ser enfrentada, caso a paralisaçã­o das competiçõe­s se alongue, é a suspensão dos contratos dos atletas enquanto perdurar a crise. Dezenas

de clubes não suportarão pagar salários sem que estejam disputando algo”, completou.

Para o professor de marketing esportivo da ESPM Ivan Martinho, a hora é de as equipes diversific­arem receitas e buscarem lucrar em outras áreas. “A criativida­de é a resposta. Ainda temos gente que está querendo consumir futebol”, diz. A dica é apostar na internet nesta época de quarentena, com interativi­dade entre torcedores, vídeos de gols antigos e atuação dos jogadores em torneios online de videogame.

Outra indicação é usar a pandemia como instrument­o para reforçar marca e imagem dos clubes. Fazendo doações, como fizeram Barcelona, Bayern e outros. “Estamos em uma fase do marketing que não importa só expor a marca, é importante olhar os valores. O futebol não está deslocado da realidade do mundo e pode ter um protagonis­mo como preservaçã­o pública”, avalia Bruno Maia, ex-vice de marketing do Vasco, diretor da Agência de Conteúdo 14 e especialis­ta em negócios e novas tecnologia­s.

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ERIC GAILLARD/REUTERS

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