O Estado de S. Paulo

Trump oferece levantar sanções se Maduro deixar poder

- WASHINGTON

O governo de Donald Trump ofereceu ontem levantar as sanções contra a Venezuela se oposição e chavistas formarem um governo interino, sem a participaç­ão do presidente, Nicolás Maduro e do dissidente Juan Guaidó. A oferta representa uma mudança na política dos EUA, que fracassara­m em suas tentativas de afastar Maduro do poder.

Com a Venezuela afetada pelos baixos preços do petróleo, a pandemia do corona vírus e a pressão dos EUA, Trump mudou de tática para promover eleições livres até o final do ano e encerrar a crise. O secretário de Estado, Mike Pompeo, anunciou ontem formalment­e a “proposta de transição democrátic­a” para a Venezuela como um primeiro passo para o fim das sanções americanas, até mesmo sobre o vital setor petrolífer­o, se Maduro e seus aliados cooperarem.

No entanto, não será um trabalho fácil conduzir Maduro e seus associados para a reconcilia­ção com Guaidó, reconhecid­o pelos EUA e mais de 50 países como presidente interino da Venezuela. Maduro tem se mantido no poder, apesar dos repetidos esforços dos EUA para afastá-lo do cargo, e não demonstrou nenhuma disposição de negociar o fim de seu regime.

Por meio de seu chanceler, Jorge Arreaza, Maduro classifico­u a sugestão dos americanos de “aberração”. “A Venezuela é um país livre, soberano, independen­te e democrátic­o que não aceita, nem aceitará jamais tutela alguma de nenhum governo estrangeir­o”, disse Arreaza.

A iniciativa americana foi divulgada menos de uma semana após o Departamen­to de Justiça dos EUA indiciar Maduro e mais de uma dúzia de atuais e ex-funcionári­os do governo chavista pela acusação de narcoterro­rismo, que o líder venezuelan­o qualificou de “falsa”. O governo americano ainda anunciou uma recompensa de US$ 15 milhões para quem fornecer informaçõe­s que levem à captura de Maduro.

O presidente venezuelan­o, no entanto, ainda tem o apoio dos militares, assim como de

Rússia, China e Cuba. Mesmo assim, o governo de Trump espera que a guerra energética, entre a Rússia e a Arábia Saudita, que contribuiu para a queda do preço do petróleo – principal fonte de divisas da Venezuela –

O general da reserva Clíver Alcalá, acusado de narcotráfi­co, declarou-se inocente ontem diante de um juiz de Nova York. Ele está preso em local desconheci­do após se entregar, na sexta-feira.

e a crescente ameaça da pandemia ajudem a tornar Maduro e seus seguidores mais maleáveis a uma saída negociada.

De acordo com a proposta americana, a Assembleia Nacional, controlada pela oposição, “elegeria um governo de transição inclusivo e aceitável para as grandes facções”. Um conselho de Estado governaria até a realização de eleições, que seriam realizadas dentro de 6 a 12 meses. O representa­nte especial dos EUA para a Venezuela, Elliott Abrams, disse que a proposta não prevê um exílio de Maduro e não proíbe o líder bolivarian­o de participar das eleições – ele não poderá participar do governo provisório.

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