O Estado de S. Paulo

Sem sair de casa, idosos têm dificuldad­e para obter remédio

Envio de receita pelos Correios e atendiment­o médico a distância são alternativ­as para evitar o problema

- Renata Okumura Roberta Jansen / RIO

A professora aposentada Therezinha Pontes, de 84 anos, vem perdendo o sono há duas semanas. E não só pelo temor com a epidemia de covid-19. O remédio que costuma tomar todas as noites para adormecer acabou. Em meio às medidas de distanciam­ento social, ela não consegue uma receita azul para repor o estoque. “Tomo esse remédio há dois anos e estou sem poder comprar”, explicou. “Tenho a receita original, mas não a azul, e as farmácias não aceitam. Meu médico não está atendendo, disse que está sem receitas em casa e não tem como sair. Não sei o que fazer.”

Situação semelhante é enfrentada pela aposentada Maria Coeli Pontes, de 80 anos, que faz tratamento com antidepres­sivos. “Tomo esse remédio há 20 anos, não posso parar de tomar agora, ainda mais num momento desses”, afirmou. “Tento ligar para a minha médica, mas ninguém atende no consultóri­o; mandei WhatsApp para a secretária, e ela também não respondeu. Liguei para o plano de saúde, e eles dizem que tenho de procurar outro médico. Mas não é para ficar em casa?”

O caso delas é recorrente neste momento em que o avanço do coronavíru­s traz uma preocupaçã­o a mais aos idosos com doenças crônicas, que precisam de receitas controlada­s para comprar medicament­os de uso contínuo. Normalment­e, esse tipo de remédio somente é vendido ao paciente, no máximo, até 30 dias após a emissão da receita médica e uma de suas vias fica retida nas farmácias. No entanto, diante do confinamen­to e cancelamen­to temporário de consultas, entidades defendem a adoção de medidas que facilitem a compra dos remédios. A situação se agrava no caso dos idosos, que devem evitar sair às ruas.

Opções. Uma alternativ­a é entrar em contato com o médico. “O paciente atualmente está solicitand­o a receita ao seu médico, que tem enviado pelo correio, motoboy ou pedido a retirada do documento por pessoa próxima. Tem sido uma prática comum”, disse Carlos André Uehara, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontolog­ia (SBGG).

Outra saída é procurar atendiment­o médico a distância. “Durante a pandemia, o idoso pode fazer atendiment­o por telemedici­na. Se o médico se sentir à vontade, pode prescrever a receita e combinar uma forma de entrega. No entanto, em muitos casos, a prescrição da receita depende de uma primeira consulta presencial para que o médico possa conhecer o paciente. É importante ainda buscar informação nos conselhos de Medicina para verificar se o responsáve­l está devidament­e cadastrado”, afirmou Uehara.

O presidente do Conselho Regional de Medicina, Sylvio Provenzano, disse que está ciente das dificuldad­es dos pacientes. Segundo ele, os próprios médicos têm dificuldad­e para conseguir novos receituári­os, uma vez que as gráficas estão fechadas. “É um contrassen­so fazer com que essas pessoas se desloquem para conseguir uma receita”, diz. “Mas a partir desta quarta, em nosso site, vamos ofertar a receita branca assinada digitalmen­te pelo médico. No máximo até quinta-feira, teremos a receita azul também.”

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WILLIAN MOREIRA/FUTURA PRESS–27/3/2020 Mudança. Resolução da Anvisa de 24 de março altera temporaria­mente as regras para a prescrição e a dispensaçã­o de medicament­os controlado­s

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