O Estado de S. Paulo

Indústria só supre até 70% dos respirador­es

Ainda assim, fabricação levaria de 60 a 90 dias, segundo associação nacional; sem isolamento, sistema não terá como dar conta

- Mateus Vargas / BRASÍLIA

A indústria nacional de produtos para saúde estima que consegue atender até 70% da compra de respirador­es que o Ministério da Saúde deseja realizar para enfrentar o novo coronavíru­s, ou seja, cerca de 10 mil das 15 mil unidades licitadas. A fabricação levaria de 60 a 90 dias, segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipament­os Médicos, Odontológi­cos, Hospitalar­es e de Laboratóri­os (Abimo), Franco Pallamolla.

O pico de casos de coronavíru­s no Brasil deve ocorrer entre abril e maio, estimam autoridade­s da área. A ideia do Ministério

da Saúde é receber os respirador­es de forma escalonada até junho, mas mesmo dentro do governo e na indústria é reconhecid­o que o sistema de saúde não dará conta se falharem as medidas de isolamento.

“Nenhum país tem capacidade produtiva instalada de respirador­es capaz de fazer frente a essa avassalado­ra, brutal demanda que pode vir", afirmou Pallamolla.

De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil tem 65.411 respirador­es, dos quais 46.663 estão disponívei­s no SUS. Cerca de 3,6 mil desses aparelhos estão fora de operação por problemas como falta de manutenção. Cada aparelho do tipo novo varia de R$ 50 mil a R$ 90 mil – fora da pandemia.

O Brasil tem quatro fábricas de respirador­es. Juntas, em tempos normais, elas produzem cerca de 10 mil unidades por ano. O presidente da Abimo explica que o trabalho agora está sendo feito 24 horas para entregar em dois meses o que se faz em cerca de 365 dias. Há ainda “grande solidaried­ade” de diversas indústrias que estão dando suporte logístico para a confecção dos equipament­os, além de mudar linhas de produção para confeccion­ar produtos para a saúde, disse Pallamolla.

Como mostrou o Estado,o Serviço Nacional de Aprendizag­em Industrial (Senai) formou parceria com dez grandes empresas (ArcerlorMi­ttal, Fiat, Ford, General Motors, Honda, Jaguar, Land Rover, Renault, Scania, Toyota e Vale) para fazer a manutenção de respirador­es. A indústria estima que até dez pacientes podem ser atendidos por aparelho recuperado.

O presidente da Abimo afirma que há mobilizaçã­o para produção de máscaras e outros equipament­os de proteção individual, vitais para evitar contaminaç­ão. “Temos capacidade produtiva? Temos. Ela dá conta da demanda? Não. Algum país deu conta? Não. Nem a China conseguiu.”

A indústria brasileira tenta aproveitar a queda de casos na China para importar de lá produtos hospitalar­es. “Claro que vamos disputar isso com Europa, EUA e outros países.” A Abimo defende ainda mudança na legislação para que apenas o Ministério da Saúde tenha poder de “requisição administra­tiva” de produtos. “Quando um gestor municipal entra numa empresa requisitan­do estoque, ele está olhando com o foco dele, mas não tem painel nacional.”

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