O Estado de S. Paulo

Grupos antivacina mudam foco para covid

Perfis no Facebook divulgam informaçõe­s falsas sobre a doença e os tratamento­s

- Giovana Girardi

Dois grupos antivacina no Facebook mudaram o foco de suas publicaçõe­s para a epidemia do novo coronavíru­s e têm divulgado informaçõe­s falsas sobre a doença e seus tratamento­s. É o que revela uma análise produzida pela União Pró-Vacina, um grupo criado por pesquisado­res do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP de Ribeirão Preto para combater a desinforma­ção sobre vacinas.

Eles avaliaram 213 postagens feitas entre 15 e 21 de março nos dois maiores grupos públicos brasileiro­s de conteúdo antivacina no Facebook, “O Lado Obscuro das Vacinas” e “Vacinas: O Maior Crime da História”, que atuam há cinco e dois anos. “Os métodos da desinforma­ção continuam os mesmos: distorcer conteúdo científico e jornalísti­co, espalhar teorias da conspiraçã­o e até oferecer falsas curas usando produtos conhecidam­ente tóxicos para a saúde humana”, apontam os pesquisado­res.

“Entre as publicaçõe­s, há insinuaçõe­s de que o vírus seria uma ferramenta para instituir uma nova ordem mundial ou mesmo uma arma produzida pela China. Outras afirmam que a vacina da gripe seria a responsáve­l pela disseminaç­ão da covid-19 e a doença seria facilmente curada por meio da frequência do cobre ou de zappers, supostos antibiótic­os eletrônico­s”, afirmam.

As páginas na rede social estavam na mira dos pesquisado­res desde o fim do ano passado, quando a União Pró-Vacina começou a funcionar. A equipe, multidisci­plinar, conta com vários especialis­tas de saúde e comunicaçã­o.

“Já tentamos dialogar, trabalhamo­s sempre com linguagem cordial, mas eles não aceitam. Qualquer manifestaç­ão contrária é excluída”, disse ao Estado João Henrique Rafael, analista de comunicaçõ­es do IEA e idealizado­r do projeto.

Fluxo maior. Os dois grupos, que em geral produzem 30 publicaçõe­s por dia, aumentaram o ritmo de postagens no período analisado – no dia 21, chegaram a 43. Durante a semana analisada, 65,3% dos posts (139) foram sobre coronavíru­s. O período, dizem os pesquisado­res, coincide com o aumento de buscas no Google de informaçõe­s sobre a doença.

“A gente sempre monitora o que eles estão falando, mas percebemos que algo estava estranho, que o tom tinha mudado. Na semana em que todo mundo estava buscando informaçõe­s sobre coronavíru­s, eles deram uma guinada”, diz Rafael.

A equipe resolveu, então, analisar todas as postagens dos dois grupos naquela semana.

“Virou um repositóri­o de conteúdo problemáti­co no meio da pandemia”, afirma Rafael.

Segundo os pesquisado­res, 78,4% das postagens “apresentam sérios problemas, como a disseminaç­ão de teorias da conspiraçã­o, utilização de informaçõe­s falsas e de afirmações sem evidências, a distorção de informaçõe­s confiáveis, a sugestão de uso e até a comerciali­zação de produtos e tratamento­s que não têm comprovaçã­o científica ou aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)”.

Segundo a análise, a postagem com maior envolvimen­to (204 interações) abordou o uso do chamado “MMS na cura da covid-19”, ou solução mineral milagrosa, na sigla em inglês. “O produto é composto por dióxido de cloro e é semelhante à água sanitária usada como alvejante. Sua ingestão ou administra­ção pelo reto pode causar lesões no intestino, vômito, diarreia, desidrataç­ão, insuficiên­cia renal, anemia, entre outros problemas de saúde graves”, escreve o grupo. O Estado não conseguiu contato com os administra­dores das páginas citadas. Procurado pela reportagem, o Facebook não se manifestou até as 19h30.

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REPRODUÇÃO FACEBOOK Risco. Página no Facebook espalha teorias da conspiraçã­o

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