O Estado de S. Paulo

Ibovespa recua 36,86% no trimestre

Índice encerrou os três primeiros meses do ano registrand­o a maior queda para o período desde o início da medição, em 1968

- Thiago Lasco

Os investidor­es já contavam que o Ibovespa fecharia o trimestre em queda, mas não poderiam imaginar que esse período de 2020 entraria para a história como o pior do principal índice da B3, a Bolsa de Valores brasileira. O indicador encerrou os negócios ontem aos 73.019 pontos, um recuo trimestral de 36,86%, o maior desde o início da medição, em 1968 – somente em março a retração foi de 29,9%.

Parte da explicação para esse desempenho está na crise causada pelo novo coronavíru­s. Os efeitos na economia se tornaram mais sérios a partir de março, quando a doença começou a se propagar da China para a Europa e os Estados Unidos. “Com a imposição de quarentena e o fechamento do comércio, houve uma queda muito forte na demanda, o que gerou inseguranç­a aos mercados”, diz Henrique Esteter, da Guide Investimen­tos. “Em um cenário adverso, o investidor tende a focar em ativos com menor volatilida­de. Mercados emergentes, como o Brasil, sentem mais o baque pois são considerad­os mais inseguros.”

Antes mesmo do estouro da pandemia, porém, o cenário já acumulava outros fatores de incerteza que deixavam o investidor apreensivo e menos tolerante ao risco, como as tensões entre EUA e Irã. “Vale lembrar que este é um ano eleitoral nos EUA e não há clareza de quem vai vencer, o que também gera um fator de incerteza”, diz Esteter.

Essa trajetória de aversão ao risco é bem ilustrada pela evolução do preço do ouro no período. O metal, considerad­o um porto seguro dos investidor­es em momentos de estresse no mercado financeiro, acumulou valorizaçã­o de 17,90% em março e de 33,23% no trimestre.

No ambiente doméstico, não bastassem os efeitos nocivos à economia por causa da quarentena, o coronavíru­s acabou aumentando o risco país. O ano começou no Brasil com a promessa de avanço na agenda das reformas macroeconô­micas, mas a pandemia jogou um balde de água fria nessa expectativ­a.

“O Congresso dificilmen­te vai tratar pautas de ajuste neste momento, que exige que se canalizem esforços no sentido de salvar vidas”, afirma Ricardo França, da Ágora Investimen­tos. “Isso acabou pesando mais sobre os ativos de risco, desencadea­ndo um movimento de aversão a risco e saída da Bolsa.”

Outra questão que ajudou a piorar o desempenho da B3 no trimestre foi a redução do valor do petróleo, causada pela guerra de preços que Rússia e Arábia Saudita travaram em fevereiro. “O conflito fez o preço dcair 60% e afetou as ações da Petrobrás, que têm um peso substancia­l na composição do Ibovespa”, diz França.

Outro dado que chamou a atenção foi a expressiva fuga de capital estrangeir­o da Bolsa. Enquanto um volume de US$ 20,2 bilhões deixou o País entre fevereiro de 2019 e fevereiro deste ano, apenas em março de 2020 a saída foi de US$ 6,109 bilhões. Esse contexto de aversão ao risco justifica parte desse movimento. Como os meses de novembro e dezembro de 2019 foram de alta nos resultados da Bolsa, muitos investidor­es estrangeir­os aproveitar­am para realizar lucros e enviar o dinheiro ao exterior. Isso foi facilitado pelo bom momento que a Bolsa estava vivendo no fim do ano.

“Com a imposição de quarentena e o fechamento do comércio, houve uma queda muito forte na demanda, o que gerou inseguranç­a aos mercados.”

Henrique Esteter

ECONOMISTA DA GUIDE INVESTIMEN­TOS

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