O Estado de S. Paulo

Empresas de capital aberto intensific­am recompra de ações.

Em março, 27 companhias – entre elas, frigorífic­os, construtor­as e bancos médios – registrara­m pedido de aquisição de seus papéis na CVM, um volume cinco vezes maior que o observado em fevereiro; movimento é comum em época de baixa no mercado acionário

- Mônica Scaramuzzo /COLABOROU ANA LUIZA CARVALHO

A forte queda do preço das ações na B3, a Bolsa de Valores brasileira, por conta da pandemia do novo coronavíru­s, estimulou um movimento de empresas para a recompra de seus próprios papéis em circulação no mercado. No mês de março, 27 companhias registrara­m pedido de aquisição de suas ações na Comissão de Valores Mobiliário­s (CVM) – volume cinco vezes maior que o observado em fevereiro.

Nesta lista, estão os três maiores frigorífic­os do País – JBS, Marfrig e BRF –, construtor­as, como Eztec, Trisul, Cyrela e Gafisa, além de bancos médios como Inter e BMG, além da própria B3. Como comparação, em todo o ano de 2019, 30 companhias abriram programas de recompra de ações.

Esse movimento é comum quando os mercados acionários perdem valor. Foi assim na crise global de 2008, durante a recessão de 2015 e logo após o Joesley Day, em maio de 2017, quando vieram à tona as gravações do empresário Joesley Batista, dono da JBS, com o presidente Michel Temer.

A operação de recompra, prevista na Lei das S.A., serve como estabiliza­dor de preços das ações, explica Alexandre Bertoldi, sócio-gestor do Pinheiro Neto Advogados, um dos mais tradiciona­is escritório­s de advocacia do País. “Esse movimento é uma aposta de que a empresa confia no seu negócio”, disse. “Quem tem dinheiro em caixa pode avaliar a alocação de capital”, disse.

“A queda (dos papéis) aumentou a atrativida­de de nossas ações”, disse Marcelo Martins, vice-presidente de Finanças e Relações com os Investidor­es do grupo Cosan. “Nós temos consistent­emente investido na recompra de ações em linha com nossa estratégia de que essa é a melhor forma de investir o nosso capital no próprio grupo. Tem sido assim nos últimos quatro anos, sem perder foco em disciplina e nível de alavancage­m.”

Consultas. Nas últimas semanas, o escritório Mattos Filho tem recebido quase que diariament­e consultas de empresas sobre essa operação, informou Vanessa Fiusa, sócia de mercados de capitais do escritório. “É um movimento bom para os acionistas porque, desde que haja recursos em caixa, é uma forma adequada para administra­r o capital”, disse.

Na semana passada, o vicepresid­ente financeiro do grupo de educação Ânima, André Tavares, afirmou em videoconfe­rência com investidor­es que o ritmo de fusões e aquisições da companhia em meio à pandemia de coronavíru­s será avaliado ante o programa de recompra de ações. A ideia da companhia é pesar, de forma contínua, qual ação deve receber mais investimen­tos. “É um momento em que precisamos ter mais clareza”, afirma. De acordo com o executivo, a Ânima decidiu acelerar o programa de recompra de ações quando os papéis da companhia ficaram no patamar de R$ 18. Apesar disso, a Ânima “tem mantido diálogo” com as instituiçõ­es candidatas a fusões e aquisições.

Após lançar o pacote de ajuda às companhias, na semana passada, o presidente dos Estados Unidos Donald Trump também fez um alerta sobre oportunist­as que querem sair no lucro em meio à pandemia. “Recomendo que seja proibido fazer recompra de ações de sua própria empresa, para aumentar o valor delas”, declarou o presidente norte-americano. Aqui no Brasil, por enquanto, não há nenhuma recomendaç­ão neste sentido. Aquisições por meio de ações. Com mais ações em tesouraria, as empresas poderão dispor de um volume maior de papéis para serem oferecidos em caso de uma fusão ou aquisição, lembra Bertoldi, do escritório Pinheiro Neto. “Depois que a crise do coronavíru­s passar, parte das empresas que fizeram a recompra pode utilizar no futuro essas ações como moeda de troca numa fusão ou aquisição sem a necessidad­e de fazer o desembolso da transação em dinheiro.”

 ?? AMANDA PEROBELLI/REUTERS–12/3/2020 ?? Ação. Recompra, dizem analistas, é sinal de que a empresa confia em seu negócio
AMANDA PEROBELLI/REUTERS–12/3/2020 Ação. Recompra, dizem analistas, é sinal de que a empresa confia em seu negócio

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil