O Estado de S. Paulo

‘PRECISAMOS DE AÇÕES HUMANITÁRI­AS NA REGIÃO MAIS CARENTE DO PAÍS’

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Alcione Albanesi, à frente da ONG Amigos do Bem, colocou no ar campanha de urgência para arrecadaçã­o online, que financiará alimentos, distribuiç­ão de água e kits de higiene para 75 mil pessoas que vivem em extrema pobreza no sertão nordestino.

“São 130 povoados localizado­s em Alagoas, Ceará e Pernambuco. Mais de 15 mil famílias que vivem em casas de barro, em um único cômodo, sem alimentos, água ou infraestru­tura”, explica a empresária, que teve o volume de arrecadaçõ­es de alimentos das redes de supermerca­do prejudicad­a por causa do coronavíru­s. “Precisamos de ajuda para as ações humanitári­as emergencia­is na região mais carente do País”. As doações podem ser feitas pelo site da instituiçã­o.

Como estão fazendo para conscienti­zar a população de comunidade­s carentes sobre o coronavíru­s?

Capacitamo­s nossa equipe local e criamos um material educativo e didático para as famílias do sertão sobre os cuidados e sinais dos primeiros sintomas sobre o vírus. Nossa equipe, junto com os agentes dos 130 povoados que atendemos, garantem que essas informaçõe­s cheguem a todos.

Como reagem às informaçõe­s? Estão se cuidando?

O grande desafio é as famílias que vivem em extrema pobreza no sertão nordestino conseguire­m colocar em prática efetivamen­te as medidas de prevenção. Sem água para beber e para higiene pessoal, famílias de até 10 pessoas vivem em uma casa de barro de apenas um cômodo, ou seja, inviável o isolamento. Por isso, faremos uma ação humanitári­a emergencia­l, levando para 75 mil pessoas cestas básicas, água com caminhões-pipa, kits de higiene, como sabonetes e álcool gel, além de remédios.

Estão cientes das consequênc­ias econômicas que o vírus trará para a economia do País e, consequent­emente, para seus empregos?

Está situação em que vivemos impacta, principalm­ente, a população mais vulnerável do nosso País. Em Alagoas, Pernambuco e Ceará, tivemos que fechar nossos centros educaciona­is e mais de 10 mil crianças deixaram de ser atendidas e de receber refeições diárias. Nossas 15 unidades produtivas no sertão, que geram emprego para centenas de pessoas, também foram paralisada­s. No sertão nordestino, o que se planta se perde pela seca extrema e, sem oportunida­des e trabalho, o cenário secular de miséria e fome se agrava. É um momento muito difícil para milhões de famílias dessa região. Ali, a miséria é gritante e não tem nem para quem pedir, porque o vizinho também vive na extrema pobreza.

Já foram reportados casos de Covid-19 nas comunidade­s?

Já existem casos isolados na região, inclusive o prefeito de Mauriti, um dos municípios que atendemos, no Ceará, está infectado. Nossa preocupaçã­o é que o vírus chegue por meio de familiares, na maioria homens, que voltaram do Sudeste por falta de trabalho nas capitais. Eles podem carregar o vírus e, com isso, a situação se agrava muito. Mas os casos nas regiões em que atuamos ainda são isolados e estamos monitorand­o as famílias por meio de um plantão 24 hs com voluntário­s médicos de São Paulo. Qualquer indício do sintoma é comunicado por nossa equipe local.

Como os hospitais estão sendo preparados para lidar com os casos mais graves do coronavíru­s?

No sertão, os hospitais locais ficam a muitos quilômetro­s de distância dos povoados atendidos. Famílias caminham mais de 10 km a pé para pegar um transporte e chegar a um dos hospitais da região que não estão preparados para atendiment­os em geral, sem leitos, lençóis, álcool gel ou qualquer estrutura. Alguns municípios inclusive não possuem hospitais ou centros médicos. Em uma situação grave de saúde, a pessoa não sobrevive. Nossas ambulância­s locais estão preparadas para emergência­s e nós capacitamo­s enfermeiro­s da região e entregamos remédios para amenizar a dor até o atendiment­o médico.

Que itens de sobrevivên­cia são mais urgentes?

Os itens de sobrevivên­cia são alimento e água. Sem alimentos a pessoa não sobrevive e a imunidade fica muito baixa. Sem água para beber ou para higienizar as mãos, a situação fica ainda mais preocupant­e.

Como empresário­s podem ajudar essa população?

Neste momento, estamos buscando recursos para a ação humanitári­a emergencia­l para atender 75 mil pessoas no sertão nordestino, a região que concentra o maior foco de fome e pobreza do país. O objetivo é abastecer as famílias com recursos básicos por, pelo menos três meses, até esta situação melhorar. Precisamos de recursos financeiro­s para a compra dos alimentos das cestas básicas e caminhões pipa para levar água, além da doação de itens básicos de higiene e manutenção dos diversos projetos existentes. Nossa instituiçã­o tem grandes dimensões e precisamos de ajuda. Se está difícil para nós, imagine para eles./SOFIA PATSCH

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