O Estado de S. Paulo

LIVRO PARA CONHECER NOSSA HISTÓRIA E PASSAR O TEMPO

Duas ideias de projetos para as crianças fazerem durante a quarentena: escrever a sua biografia e a de seus familiares

- Maria Fernanda Rodrigues / M.F.R.

Mesmo nesses tempos estranhos e atribulado­s da quarentena por causa do coronavíru­s, com pais tendo que se desdobrar entre o home office, as tarefas da casa e o cuidado com as crianças, e com as próprias crianças ocupadas com aulas a distância e tarefas escolares, há espaço para a introspecç­ão e para o autoconhec­imento. Mas não, essa não é uma matéria de autoajuda.

Em 9 de março de 2013, o Estadinho publicou uma reportagem que incentivav­a as crianças a escreverem sua autobiogra­fia e que discutia questões como identidade, mostrando, ou ajudando, a meninada a descobrir como nos tornamos quem somos.

“Quem é você? Olhe-se no espelho. Como você é? Com quem se parece?” Assim começava o texto, e essas perguntas, o próprio texto admitia, eram fáceis de serem respondida­s. Difícil mesmo é olhar para dentro e descobrir como somos. “Tímido, tagarela, nervoso, calmo, agitado, organizado, bagunceiro, alegre, quieto… Que caracterís­ticas compõem a sua personalid­ade?”, continuava. A sugestão era seguir pensando nos ambientes frequentad­os, nas coisas que mais gostamos de fazer, nos nossos sonhos.

A matéria partia de um projeto desenvolvi­do no colégio Santo Américo, em São Paulo, no qual os alunos de cerca de 6 anos escreviam sua história e isso tudo virava um livro depois. A reportagem reproduzia algumas dessas autobiogra­fias.

Giovanna, por exemplo, contou que era loira, risonha e engraçada, que adorava rock e não gostava que a irritassem. Ela demorou quatro dias para escrever sobre sua trajetória que já entrava no sexto ano. Nela, a garota relembrou o dia em que viu o mar e também quando saiu correndo atrás do cachorro que tinha roubado seu queijo.

João Pedro começou sua autobiogra­fia falando dos amigos e contou uma memória que ele guardava com carinho e orgulho travesso: quando escondeu, com sua turma, todos os docinhos de uma festa.

Maria Clara começou falando sobre sua família e contou que gostava muito de animais. Seu sonho era participar de uma olimpíada, na modalidade hipismo. O pequeno notívago Ricardo contou que ficou sabendo o que era uma biografia quando leu uma sobre Jacques Cousteau, e achou que podia ser legal escrever a dele também.

A versão online da matéria, com o conteúdo completo publicado no blog do Estadinho, indicava três livros para as crianças lerem antes de se aventurare­m na escrita de suas biografias. Eram eles: Alberto – Do Sonho ao Voo (Scipione), de José Roberto Luchetti com ilustraçõe­s de Angelo Abu; Frida (Cosac Naify), de Jonah Winter; e O Homem Peixe: A História de Jacques Cousteau (Gaia/Global), de Jennifer Berne e Éric Puybaret. Os dois últimos estão disponívei­s apenas em sebos.

Há muitas outras opções de biografias para os pequenos no mercado, lançadas mais recentemen­te. Para as crianças maiores, adolescent­es e pais que quiserem conhecer a vida da artista mexicana, a dica é a graphic novel Frida Kahlo, de María Hesse, publicada pela L&PM. Para os menores, Frida Ama Sua Terra – Uma História Para Conhecer Frida Kahlo (Autêntica), de Silvia Sirkise Tomi Hadida.

Pensando nos ídolos juvenis atuais e com versões em e-book à venda, Malala: A Menina Que Queria Ir Para a Escola (Companhia das Letrinhas), de Adriana Carranca, e A História de Greta (Sextante), de Valentina Camerin, são boas opções de leitura.

Isso sem contar os inúmeros volumes reunindo várias biografias, sobretudo de mulheres, como Histórias de Ninar Para Garotas Rebeldes (V&R), que virou um best-seller e fez escola, ou As Cientistas: 50 Mulheres Que Mudaram o Mundo (Blucher).

E se a ideia for aliar leitura a estudo, que tal O Menino Nelson Mandela (Melhoramen­tos), de Viviana Mazza? Tem em e-book.

Mas de volta à página em branco, ou à tela do computador. A matéria do Estadinho explicava para os leitores que estudos mostram que cerca de metade de nossas caracterís­ticas de comportame­nto tem influência da genética, ou seja, quando nascemos, trazemos informaçõe­s vindas dos nossos pais. Mas que o meio também tem grande influência na formação de nossa personalid­ade.

O texto explica ainda que é com sete meses que descobrimo­s que existimos e que com 3 anos, percebendo o meio em que vivemos, começamos a distinguir o que gostamos. Por fim, diz que na infância funcionamo­s como uma espécie de esponja que pode absorver os valores passados pelos nossos pais e ainda as coisas que acontecem com a gente – e que é assim

LER BIOGRAFIAS TAMBÉM AJUDA NO NOVO PROJETO LITERÁRIO

que, aos poucos, nos tornamos quem somos.

Por onde começar. As professora­s que acompanhar­am os alunos do Santo Américo naquele março de 2013, Patrícia Diniz Oliveira e Camila Assumpção Goulart, deram dicas para a reportagem sobre como começar a escrever uma biografia.

A primeira sugestão foi: converse com seus amigos e peça que eles contem como acham que você é, já que visões diferentes nos ajudam a entender mais sobre nossa personalid­ade. Ler biografias e autobiogra­fias de pessoas famosas também pode ajudar – a ver, inclusive, como esse tipo de texto é feito.

A terceira dica é fazer uma entrevista com os pais para que eles ajudem a juntar as peças do quebra-cabeça da nossa vida, uma vez que não nos lembramos dos nossos primeiros anos de vida. Sobre o texto em si, a sugestão para quem não sabe como começar o primeiro parágrafo é escolher o simples: escreva qual é o seu nome, quantos anos tem e quem são os seus pais. E depois conte sobre as coisas que gosta de fazer, lembre dos dias especiais e dos momentos engraçados. Isso tudo ajuda a compor a nossa a história, a passar o tempo, e a nos conhecermo­s melhor nesses dias de isolamento social.

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CYNTHIA ORENSZTAJN
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ACERVO ESTADÃO Volta no tempo. Em março de 2018, o ‘Estadinho’ falava sobre como escrever biografias

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