O Estado de S. Paulo

Vinho & cineminha

- SUZANA BARELLI

Em um filme de 1962, o Muralhas do Pavor, os atores Vicent Price e Peter Lorre se enfrentam em um hilário duelo de degustação. Price segue todos os rituais para provar a bebida e identifica­r seu produtor e sua safra. Seu personagem, com todos os seus trejeitos, é a caricatura de um degustador. Lorre é um bêbado, que verte os vinhos sem pensar e também identifica produtor e safra, pede sempre mais um gole e comenta que o vinho é muito bom. Rever esta cena, uma das poucas divertidas neste filme de terror, baseado em contos de Edgar Allan Poe, é uma das pedidas deste período de quarentena.

Outra pedida é o filme Uncorked, que estreou recentemen­te na Netflix. O filme conta a história de um jovem negro (o ator Mamaoudou Athie), que sonha em estudar para ser master sommelier, mas é pressionad­o pelo pai para assumir o restaurant­e da família. Aqui, o vinho é o coadjuvant­e para uma complicada relação de pai e filho, e o roteiro dá boas pistas sobre a rotina intensa de estudos para obter um dos títulos mais cobiçados entre os profission­ais do serviço do vinho.

Como personagem principal, mas na maioria das vezes, coadjuvant­e, o vinho tem espaço no cinema para os mais diferentes gostos. Nos filmes antigos, uma pedida é O ano do cometa, de 1992.

Na comédia romântica, a heroína tem de escapar de um grupo de mercenário­s interessad­os em uma garrafa de 1811, o ano da passagem do cometa Halley. Também antigo e difícil de ser encontrado é O segredo de Santa Vitória, de 1969, com o ator Anthony Quinn como personagem principal. Ele é o bêbado da cidade, que acaba nomeado prefeito e tem o desafio de salvar o vinho local dos nazistas.

Mais fácil encontrar em plataforma­s virtuais, são os filmes a partir dos anos 2000. Sempre vale rever Sideways, entre umas e outras, de Alexander Payne que, em 2004, popularizo­u a Pinot Noir, com bons efeitos até hoje (na época, explodiu a venda de tintos elaborados com esta uva).

Na comédia romântica, Milles leva o amigo Jack para conhecer os vinhedos da Califórnia, em uma viagem de despedida de solteiro. Outra divertida comédia romântica é Um bom ano. Nele, o ocupado investidor Max Skinner, vivido por Russel Crowe, recebe um vinhedo de herança e relembra a infância.

Nos documentár­ios, um divisor de águas é o filme Mondovino, de 2005, do polêmico Jonathan Nossiter. Produzido entre Argentina, França, Itália e Estados Unidos, o filme levanta a bandeira dos pequenos produtores e dos vinhos elaborados sem os produtos de síntese, como os agrotóxico­s. Fez muito mais sucesso do que o segundo filme sobre vinhos do diretor, o Natural Resistance, que eu pessoalmen­te gosto mais. Conta a história de pequenos produtores de vinho que seguem a filosofia natural.

Há duas histórias importante­s no mundo do vinho, que ganharam seu próprio filme. A primeira é Bottle Shock, de 2008, que romantiza sobre a história do Julgamento de Paris. O evento é um marco real na história do vinho e tem o mérito de reconhecer a qualidade do vinho norte-americano.

Na história real, o inglês Steven

Spurrier, então dono de uma loja de vinhos em Paris, organiza uma prova às cegas (sem saber o que está provando) com brancos e tintos franceses e norte-americanos.

E os vinhos da terra do tio Sam são os mais bem avaliados. Sour Grapes, de 2016, conta a história do indonésio Rudy Kurniawan, que falsificav­a garrafas de vinho e acabou condenado por isso.

Imperdível é a série Somm, abreviatur­a de sommelier, que já conta com três filmes. O primeiro, de 2013, traz o dia a dia dos candidatos ao título de Master Sommelier. O documentár­io deixa claro a dificuldad­e para conseguir o título e como é o dia a dia da competição. O Somm 2 foca mais na produção de vinho e o Somm 3, no mercado.

Outro bom filme é Red Obsession, de 2012. Narrado por Russell Crowe, conta como os chineses começaram a gostar de vinhos.

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