O Estado de S. Paulo

ISOLAMENTO ESTENDIDO

- Pedro Venceslau Paloma Cotes João Ker Tulio Kruse /COLABOROU MARCO ANTÔNIO CARVALHO

O governador de São Paulo, João Doria, prorrogou a quarentena no Estado até o dia 22 após as autoridade­s detectarem uma queda na adesão ao isolamento para conter o coronavíru­s. O Estádio do Pacaembu recebeu ontem os primeiros pacientes com covid-19 em hospital de campanha com 200 leitos.

Queda foi identifica­da pelo Estado entre 3ª semana de março e início de abril; Doria disse que vai acionar PM contra quem infringir ordem de fechar comércio não essencial e evitar aglomeraçõ­es. Governo estima ao menos 111 mil mortes em 6 meses, mesmo com medidas

O governador João Doria (PSDB) prorrogou a quarentena em São Paulo para conter o avanço do novo coronavíru­s. A medida começou no Estado no dia 24 e teria validade até hoje, mas foi prorrogada por mais 15 dias. O Estado já identifico­u, entre a terceira semana de março e a primeira semana de abril, redução do número de pessoas que continuara­m dentro de casa. Segundo estimativa­s do governo, o total de mortes nos próximos seis meses deve chegar a 111 mil, mesmo com as medidas de isolamento. Sem a quarentena, o número de óbitos projetado é de 277 mil até outubro.

O decreto estadual vai determinar o fechamento do comércio e de serviços não essenciais, o que inclui bares, restaurant­es e cafés, que só podem funcionar com serviços de delivery. Já os serviços considerad­os essenciais, como farmácias e supermerca­dos, podem abrir as portas. A medida vale para todos os 645 municípios paulistas e o decreto a ser publicado hoje tem os mesmo itens do anunciado no dia 24.

“Vocês terão a obrigação de seguir a deliberaçã­o do governo de São Paulo. Ela é constituci­onal”, frisou Doria, afirmando que a medida tem de ser cumprida pelos prefeitos. Na última semana, algumas cidades do interior publicaram normas para afrouxar as restrições.

“Nenhuma aglomeraçã­o, de nenhuma espécie, em nenhuma cidade ou área de São Paulo, será permitida”, afirmou Doria. O anúncio foi no Palácio dos Bandeirant­es, com a participaç­ão de vários médicos e do infectolog­ista David Uip, chefe do Centro de Contingênc­ia da covid-19, que estava afastado por ter sido infectado pelo vírus.

A circulação de pessoas na cidade de São Paulo aumentou na última semana, em meio à recomendaç­ão de que a população fique em casa para frear o contágio. Em uma semana, de 23 de março a 2 de abril, o isolamento na capital foi de 66% dos paulistas a 52,4%, segundo a projeção feita por um estudo do Instituto Butantã e da Universida­de de Brasília (UnB), divulgada pelo governo estadual.

Após o início das medidas restritiva­s, o isolamento atingiu o nível mais baixo no dia 3. Foi a primeira vez, desde o início do fechamento de comércio, que mais da metade dos paulistas foram às ruas – só 47% ficaram em casa. A estimativa foi feita com base em dados de geolocaliz­ação de telefones celulares.

“Através da triangulaç­ão das antenas que recebem o sinal do celular, a gente sabe que você andou mais de cem ou duzentos metros da sua casa”, afirmou o pesquisado­r Júlio Croda, que participou do estudo. O médico integrava a equipe do Ministério da Saúde há até duas semanas. “Existe uma variação de 47% a 70%, sendo que nos finais de semana é que há maiores níveis de isolamento”, acrescento­u.

Diferentem­ente do presidente Jair Bolsonaro, que fala em receio de crise econômica e defende reabrir o comércio, Doria tem afirmado que pretende manter o isolamento social.

Repressão. Doria afirmou que fará uso de força policial para quem infringir as regras. Há orientação para que a Polícia Militar disperse aglomeraçõ­es. Serão medidas de orientação, em um primeiro momento. Em um segundo momento, seriam medidas coercitiva­s, mas Doria afirmou que “espera que isso não seja necessário’.

Questionad­o sobre se poderia vir a tomar outras medidas restritiva­s, Doria disseque a orientação é elevar o rigor. “Se houver necessidad­e de mais medidas restritiva­s, não hesitaremo­s em fazê-lo, seguindo a orientação dos especialis­tas.”

Segundo a Prefeitura, 50 estabeleci­mentos já foram interditad­os na cidade por descumprir o isolamento. Até ontem, a Prefeitura recebeu 9.744 denúncias de furo à quarentena.

Balanço. São Paulo é o Estado com o maior número de mortes e de casos, com 304 óbitos e 4.866 notificaçõ­es. Segundo as projeções do governo estadual, o isolamento pode poupar mais de 160 mil vidas. No cenário sem qualquer medida, haveria 277 mil óbitos em seis meses. Com o isolamento social, o número caiu para 111 mil.

De acordo com a projeção do governo estadual, 89 mil mortes serão evitadas nos próximos 70 dias em toda a região metropolit­ana de São Paulo, caso as atuais medidas sejam mantidas. Essa projeção foi calculada com base nas taxas atuais de isolamento, mesmo com a média menor na última semana.

Croda alerta que é preciso manter ou aumentar ainda mais as restrições de circulação de pessoas. O Ministério da Saúde, porém, já sinaliza querer afrouxar as restrições (mais na pág. A10). “As medidas que foram implementa­das são bastante favoráveis do ponto de vista de preservar a capacidade do serviço de saúde na resposta”, disse ele.

A projeção do Estado também foi feita para internaçõe­s em hospitais. Sem quarentena, seria 1,3 milhão em 180 dias. O estudo mostra que esse número cai para 670 mil com o isolamento social.

Para internação em UTIs, o estudo do governo paulista aponta que as restrições podem fazer os casos caírem de 315 mil para 147 mil.

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