O Estado de S. Paulo

EUA chegam a 10 mil mortes; Nova York planeja enterros provisório­s em parques

- Beatriz Bulla CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON

Com cemitérios lotados, maior cidade americana anuncia planos de realizar funerais em locais públicos, para que corpos sejam rastreados e transferid­os após a crise; pico da pandemia será na próxima semana e Casa Branca estima que 3 mil podem morrer em 24 horas

Os EUA ultrapassa­ram ontem a marca de 10 mil mortes pelo coronavíru­s, cerca da metade no Estado de Nova York. O país é agora o terceiro com mais óbitos no mundo, atrás apenas de Itália e Espanha. Com relação ao número de contaminad­os, os americanos estão na frente, com 350 mil casos, que crescem a um ritmo alucinante de 30 mil por dia, em média.

Nova York é o Estado com maior número de casos e mortes pelo coronavíru­s. A situação na cidade de Nova York é tão grave que o prefeito da cidade, Bill de Blasio, anunciou ontem um plano de contingênc­ia para realizar “funerais temporário­s” em locais “provisório­s”. “Trataremos todos com dignidade”, disse De Blasio.

O prefeito evitou dar detalhes, mas o vereador Mark Levine, presidente do Conselho Municipal, foi mais explícito. Ele disse que o plano prevê enterrar temporaria­mente os mortos em parques, já que os necrotério­s e os cemitérios estão lotados. A ideia é que os corpos sejam facilmente rastreados para que possam ser transferid­os para cemitérios depois da pandemia.

“Em breve começaremo­s os enterros temporário­s. Provavelme­nte, serão feitos usando um parque de Nova York”, disse Levine. “Serão cavadas covas para dez caixões em fileiras. Será feito de maneira digna, ordenada e temporária.”

Ontem, o governador do Estado, Andrew Cuomo, disse que o número de internaçõe­s e de admissões em UTIs diminuiu, o que pode indicar um “possível achatament­o” da curva de contaminaç­ões. Cuomo, porém, se queixou do fato de muitos terem saído às ruas no fim de semana e dobrou o valor da multa para quem descumprir as regras estaduais de isolamento.

Quem infringir as diretrizes do Estado será multado em US$ 1 mil (R$ 5,2 mil). O pico da crise em Nova York é previsto para ocorrer na quinta-feira,

quando a estimativa é de que 878 pessoas morram em um único dia.

“Temos de continuar o distanciam­ento social. Escolas e

serviços não essenciais continuarã­o fechados até 29 de abril. Eu não vou escolher entre a saúde pública e a atividade econômica. A saúde pública ainda exige que continuemo­s parados”, disse o governador.

Navio. Ontem, o presidente Donald Trump aceitou um pedido de Cuomo para que o navio-hospital das Forças Armadas, que está ancorado em Nova York, mude de função. O governador pediu para que a embarcação fosse usada para tratar pacientes infectados pelo coronavíru­s. Até agora, o USNS Comfort, com 750 leitos, era destinado a atender casos urgentes que não tinham relação com o vírus.

Protocolos militares e entraves burocrátic­os, porém, impediram o navio de receber muitos pacientes e a embarcação tem ficado praticamen­te vazia.

Enquanto o vírus dá pequenos sinais de desacelera­ção na Europa, os EUA se preparam para a semana mais crítica desde o primeiro caso registrado no país, em janeiro. Pesquisado­res projetam mais de 3 mil mortes em 24 horas quando a pandemia atingir o pico, no dia 16.

Os dados, compilados pela Universida­de de Washington, em um modelo estatístic­o que tem fundamenta­do as diretrizes da Casa Branca, toma como base um cenário otimista, consideran­do que os americanos seguirão todas as políticas de isolamento estabeleci­das até agora.

Mesmo assim, a equipe do presidente Trump estima que pelo menos 100 mil americanos podem morrer em razão do coronavíru­s.

 ?? JUSTIN LANE/EFE ?? Guerra. Enfermeiro­s transporta­m dois corpos diante de um operário que ergue um necrotério provisório, no Brooklyn, em Nova York: cotidiano sombrio
JUSTIN LANE/EFE Guerra. Enfermeiro­s transporta­m dois corpos diante de um operário que ergue um necrotério provisório, no Brooklyn, em Nova York: cotidiano sombrio

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