O Estado de S. Paulo

Distribuid­or quer custo com pandemia em conta de luz

- ANNE WARTH, DENISE LUNA, ALINE BRONZATI E CRISTIAN FAVARO

Preocupada­s com a queda do consumo, os distribuid­ores de energia querem a garantia de que terão custos pagos por tarifas – ou seja, repassados ao consumidor. Para isso, as empresas querem que o governo inclua, no texto de uma medida provisória a ser enviada ao Congresso nos próximos dias, a possibilid­ade de pedir reequilíbr­io econômico-financeiro dos contratos. Também querem que a redação estabeleça que sobras de energia sejam repassadas às contas de luz. Atualmente, as distribuid­oras devem contratar entre 100% e 105% da demanda para não serem punidas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A contrataçã­o do que ultrapassa os 105% é considerad­a risco da própria distribuid­ora. Com a redução do consumo, elas querem que os excedentes sejam enquadrado­s como “exposição involuntár­ia”, ou seja, decorrente de eventos alheios à vontade das empresas.

» Sou contra. A proposta encontra resistênci­a na Aneel. Internamen­te, fontes consideram que, ao incluir os termos no texto, o governo estaria passando por cima das atribuiçõe­s do órgão regulador. A Aneel não é contra pedidos de reequilíbr­io econômico-financeiro, mas alega que as normas sobre esse tipo de situação já existem e funcionam bem. Na pandemia, será preciso avaliar casos concretos. Exemplo: as empresas teriam de comprovar a relação entre sobra de energia e a queda do consumo em decorrênci­a da covid-19.

» Blefe. Um dos receios na Aneel é que o setor use a pandemia como desculpa para resolver problemas prévios. É o caso da inadimplên­cia. Até agora, as distribuid­oras não apresentar­am números que comprovem o aumento dos calotes nas contas de luz. A cobertura de custos com inadimplên­cia também é um item que as empresas querem empurrar para a redação da MP.

» Prática antiga. As regras para pedido de reequilíbr­io econômico-financeiro dos contratos existem desde 1995. Em 2011, no racionamen­to de energia, o governo obrigou o consumidor a reduzir o consumo. Depois,

as distribuid­oras foram compensada­s por perdas com aumento de tarifas.

» Nos Estados. Na primeira revisão da Agência Nacional do Petróleo (ANP) depois do agravament­o da crise do coronavíru­s, o preço médio do petróleo utilizado para cálculo dos royalties já aponta para redução na arrecadaçã­o da União em 30%, em 2020. O valor sai de uma estimativa inicial de R$ 27 bilhões em 2020 para R$ 19,5 bilhões.

» Última que morre. Em uma visão otimista, a ANP reduziu o preço médio usado para calcular as estimativa­s dos royalties para União, Estados e municípios, de US$ 60 o barril, em março, para US$ 43,30 o barril, em abril. Enquanto a expectativ­a para a média do dólar foi mais tímida, para R$ 4,44 contra R$ 4,04 do mês anterior. Os valores ainda estão distantes da realidade. Hoje, o petróleo tipo Brent, que serve de parâmetro para as negociaçõe­s da Petrobrás está sendo negociado pouco acima dos U$ 30 o barril, depois de semanas tocando a casa dos US$ 25.

» Perdas. Se levado em conta o valor atual do petróleo, a arrecadaçã­o da União iria a R$ 13 bilhões, bem distante dos R$ 23,4 bilhões do ano passado. O Estado que mais perderia seria o Rio de Janeiro, maior produtor do País. A queda de arrecadaçã­o seria de R$ 2,7 bilhões, ante os R$ 4 bilhões projetados pela agência com o barril na casa dos US$ 40.

» Adiantamen­to. A Azul já está acessando as linhas de antecipaçã­o de recebíveis de cartão de crédito para atravessar a crise gerada pela pandemia de coronavíru­s. A aérea teria solicitado operações de alguns milhões de reais à Rede, do Itaú Unibanco, sua principal adquirente para comércio eletrônico. Não é a única. Com a estratégia de ter transações suportadas por várias empresas, a Azul também conta com outras gestoras de maquininha­s. » Tem chão. A companhia aérea tem mais de R$ 1 bilhão em pagamentos a receber a serem antecipado­s. Em condições normais, o montante poderia se transforma­r em até R$ 3,5 bilhões em crédito.

» Crise. Os valores a receber serão fundamenta­is ao setor aéreo, diante da necessidad­e de liquidez. Com a crise, as empresas enfrentam queda na demanda por passagens e restrição a voos em diversos países. Só a Azul reduziu a capacidade total de sua malha em 90%, entre os dias 25 de março e 30 de abril.

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EDUARDO NICOLAU/ESTADÃO - 16/1/2004
 ?? JOSÉ LUIS DA CONCEIÇÃO/ESTADÃO - 6/11/2008 ??
JOSÉ LUIS DA CONCEIÇÃO/ESTADÃO - 6/11/2008
 ?? MARCOS DE PAULA/ESTADÃO - 17/12/2014 ??
MARCOS DE PAULA/ESTADÃO - 17/12/2014

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