O Estado de S. Paulo

Argentina adia pagamento da dívida para ano que vem

Agência classifica­dora de risco rebaixou nota do país para ‘inadimplên­cia restrita,; mercado já esperava medida

- Luciana Dyniewicz / COLABOROU GABRIEL BUENO DA COSTA

Com baixo volume de reservas internacio­nais e em meio a um aumento de gastos para lidar com a crise da covid-19, o governo argentino de Alberto Fernández adiou para 2021 o pagamento de parte da dívida de longo prazo do país que vencia este ano, o que foi classifica­do por economista­s como um calote.

A medida, porém, não surpreende­u os investidor­es, dado o cenário econômico local e internacio­nal. “É uma má notícia, mas não um desastre. Poucos achavam que haveria condições de realizar o pagamento”, disse um economista do mercado financeiro de Buenos Aires.

Mesmo que os investidor­es não tenham se assustado, a agência de classifica­ção de risco Fitch rebaixou a nota do país de CC (grande probabilid­ade de inadimplên­cia) para RD (inadimplên­cia restrita). A Fitch destacou que a medida foi unilateral, por decreto e sem negociação com os credores, sendo adotada para evitar um default tradiciona­l no pagamento.

A diferença entre a medida tomada por Fernández e a pelo ex-presidente Mauricio Macri, em agosto do ano passado, é que agora o “default” envolve títulos de longo prazo – sob Macri, foram apenas os de curto prazo, como os de 30 ou 90 dias. “A situação é cada vez mais extrema, e as reservas internacio­nais não dão conta”, diz o economista Lorenzo Sigaut, da consultori­a argentina Ecolatina.

Segundo ele, o Banco Central tem ao redor de US$ 11 bilhões em reservas líquidas. A dívida que vencia agora era de aproximada­mente US$ 8,4 bilhões.

Com um volume de reservas limitadíss­imo, em recessão econômica, sem acesso a financiame­nto e com a crise do coronavíru­s para enfrentar, a Argentina está recorrendo à emissão de moeda para ampliar os gastos nos próximos meses.

Fernández já anunciou que, em abril, pagará 10 mil pesos (pouco mais de R$ 800) para cada argentino que esteja sem fonte de renda. A medida deve alcançar 3,6 milhões de famílias e pode se estender caso a quarentena se prolongue. Com o apoio da oposição, o governo determinou, em 19 de março, uma quarentena total no país até a semana passada, o que foi, posteriorm­ente, estendido até 12 de abril.

Apesar dos altos índices de inflação no país, que encerrou 2019 com um aumento de 53,8% nos preços, a emissão monetária para financiar os gastos não tem preocupado economista­s. De acordo com Sigaut, a medida não deve gerar pressão inflacioná­ria no curto prazo, pois grande parte da economia está parada. Quando o pior momento da crise passar, no entanto, o Banco Central terá de retirar parte da liquidez para garantir que não haja uma explosão nos preços.

“A linha de atuação (da equipe econômica comandada por Martín Guzmán) é correta. Como em todo o mundo, é preciso que o governo aumente os gastos. Não deve haver uma hiperinfla­ção por causa da emissão monetária agora dado que os pesos estão circulando muito menos do que em períodos normais”, destacou outro economista do mercado financeiro argentino.

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