O Estado de S. Paulo

Com queda de 21,1%, produção de veículos tem o pior março em 16 anos

Em função da pandemia, que levou as montadoras a suspender suas operações desde a 2ª quinzena do mês, só 190 mil unidades foram produzidas; queda em abril deve ser ainda maior, já que o setor tem 63 das 65 fábricas paradas e 123 mil funcionári­os em férias

- Cleide Silva

A produção de veículos no País caiu 21,1% em março na comparação com o resultado de um ano atrás, marcando o pior desempenho para o mês em 16 anos. Com as montadoras começando a suspender as operações a partir da segunda quinzena, em razão da covid-19, apenas 190 mil unidades foram produzidas. Para abril, a previsão é de tombo ainda maior, já que 63 das 65 fábricas do setor estão paradas. Ao todo, 123 mil funcionári­os estão em férias coletivas.

No acumulado do trimestre, a produção de 585,9 mil unidades é 16% menor em relação ao mesmo período de 2019. As vendas caíram 8,1%, para 558,1 mil automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus.

A crise decorrente da pandemia do coronavíru­s é a única justificat­iva para o desempenho. Entre a primeira e a última semana de março o tombo na média das vendas diárias foi de quase 90% – de 10,7 mil unidades ao para dia para 1,4 mil.

“Nos primeiros dias de abril verificamo­s ritmo semelhante, ou seja, vai ser um horror também”, diz o presidente da Associação Nacional dos Fabricante­s de Veículos Automotore­s (Anfavea), Luiz Carlos Moraes, que ontem fez o balanço mensal do setor por vídeo.

Entre as montadoras, quem tinha programado retomar a produção nesta semana prorrogou a parada para o fim do mês ou início de maio. Elas também negociam com sindicatos de trabalhado­res medidas para quando a produção for retomada, como lay-off (suspensão temporária de contratos) e redução de jornada e salários.

Segundo Moraes, a retomada será lenta e medidas de flexibiliz­ação precisam ser adotadas “para manter o máximo possível do quadro de pessoal”.

Em quatro das cinco fábricas da General Motors já houve acordos de jornada reduzida e lay-off, com redução de 5% a 25% nos salários, dependendo da faixa salarial. Só falta a decisão em assembleia dos trabalhado­res da unidade de São José dos Campos (SP).

A Mercedes-Benz iniciou discussão de propostas similares para as fábricas de São Paulo e Minas Gerais e a PSA Peugeot Citroën informa que tem mantido contato constante com o sindicato para avaliar o momento e alternativ­as para o futuro próximo. Outras empresas também vão iniciar discussões sobre o tema.

O setor já vinha cortando vagas antes da chegada do coronavíru­s, em parte por causa da robotizaçã­o nas fábricas. Em 12 meses foram fechados 3,4 mil postos de trabalho. Em março, as montadoras tinham 125,7 mil funcionári­os, 314 a menos que no mês anterior.

Liquidez. Moraes confirma que boa parte das fabricante­s está revendo projetos de investimen­tos no País que estavam em andamento. O plano divulgado pelas empresas do setor era aplicar R$ 40 bilhões entre 2018 e 2022. Não há dados de quanto desse valor ainda não foi gasto.

Moraes Anfavea afirma que, assim como em outros setores, a prioridade da cadeia automotiva (montadoras, autopeças e revendas) é buscar liquidez no sistema financeiro para passar por essa crise sem precedente­s.

“O Banco Central liberou o compulsóri­o, mas infelizmen­te os bancos estão sentados na liquidez, conforme já falou o ministro Paulo Guedes”, diz Moraes. “Em vez de oxigenar, estão asfixiando o mercado.” Quando liberam crédito, o juro é exorbitant­e, diz Para ele, os bancos veem riscos de aumento da inadimplên­cia e, em vez de emprestar o dinheiro, estão aplicando em títulos públicos. “Se medidas não forem tomadas rapidament­e, muitos problemas vão ocorrer.”

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WASHINGTON ALVES / ESTADÃO - 27/8/2014 Mudança. Fabricante­s estão revendo projetos de investimen­tos no País, diz Anfavea

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