O Estado de S. Paulo

A MENINA QUE VIROU CARRO

Há 120 anos, modelos da Daimler foram rebatizado­s de Mercédès

- Tião Oliveira

Há 120 anos, em abril de 1900, o austríaco Emil Jellinek batizou de Mercédès os carros que comprara da alemã Daimler-Motoren-Gesellscha­ft (DMG), algo como Empresa de Motores Daimler, em tradução livre. A nova marca, nome de sua primeira filha, foi registrada em 1902 e, com afusão da Daimler com aB enz,em1926,s urgiu uma das mais prestigiad­as fabricante­s de veículos do mundo – e a única com nome de mulher.

Embora a história mais aceita é ade queJell in ekquisho mena gear agarota, há controvérs­ias. Há quem diga que o então cônsul geral do Império AustroHúng­aro na França quis evitar problemas judiciais.

Jellinek morava coma família em Nice, na Riviera Francesa, quando encomendou carros da fabricante alemã para participar de corridas. O problema é que, coma morte deGottlieb Daimler, sócio de Wilhelm Maybach na DMG, em março de 1900, a companhia pôs à venda o nome comercial “Daimler”.

Para evitar dores de cabeça, Jellinek mudou os nomes dos carros da Daimler para Mercedes. O primeiro veículo a ostentar anova marca foi o Mercedes 35 PS, que participou da Semana de Corrida de Nice, em 1901.

Por outro lado, é notório que Jellinek batizou várias propriedad­es, inclusive mansões, com o nome da filha e ficou conhecido como “Senhor Mercedes”. Em julho de 1903, ele recebeu autorizaçã­o param udars eu nome para EmilJell in e k-M ercédès .“Pro vav elmenteéa primeira vez que ump aiado tao no mede sua filha ”, disse o empresário ao celebrara decisão.

Uma das cláusulas do contrato entre o cônsul e a DMG previa que os motores dos carros fossem chamados de DaimlerMer­cedes. Essa foi a primeira vez que a empresa utilizou formalment­e o nome Mercedes.

Sucesso. O fato é que o Mercedes 35 PS fez um grande sucesso – não necessaria­mente por causa do nome. O modelo é considerad­o o protótipo do automóvel moderno. Segundo informaçõe­s da Mercedes-Benz, o carro tinha “arquitetur­a progressiv­a e se tornou um modelo para toda a indústria automobilí­stica.”

“Entramos na era da Mercedes”, disse Paul Meyan, então secretário-geral do Automobile Club of France, que organizou a a Semana de Corrida de Nice, logo após a estreia do modelo.

De olho nos bons resultados na França, a DMG transformo­u o Mercedes 35 PS em um carro familiar ao instalar dois bancos na parte traseira. O sucesso foi tão grande que as linhas de produção da DMG tinham de funcionar com capacidade total para atender à demanda.

A sigla PS é a abreviatur­a da palavra alemã “pferdestär­ke” (cavalo-força) e refere-se à potência gerada pelo motor, no caso de 35 cv (de cavalo-vapor, termo utilizado no Brasil). O quatro-cilindros de 2,1 litros era derivado do utilizado no Daimler Phönix, de 1898 – primeiro veículo dotado desse tipo de propulsor no mundo e que também foi encomendad­o por Jellinek.

O Mercedes 35 PS tinha ótimos 2,35 metros de distância entre os eixos. Para comparação, são apenas 12 cm a menos que o de um Volkswagen Gol. O motor era montado sobre o eixo dianteiro e ficava muito próximo ao chão. As rodas, feitas de madeira e calçadas com pneus de borracha maciça, eram fixas.

Havia dois sistemas de freio. O principal era acionado manualment­e e atuava nas rodas de trás – o outro era pelo pé. O sistema secundário tinha corrente e era arrefecido a água.

Embora o quatro-cilindros ficasse na frente, o torque (força) era enviado às rodas traseiras por meio de corrente. A alavanca do câmbio de quatro marchas à frente e uma para trás ficava à direita do motorista.

EM 1903, CÔNSUL FOI AUTORIZADO A MUDAR SEU NOME PARA EMIL JELLINEK MERCEDES

‘Mãe do automóvel’. Se não fosse pelo espírito aventureir­o da alemã Bertha Benz, o mundo do automóvel (e talvez a civilizaçã­o tal qual conhecemos) poderia ter seguido uma direção bem diferente. Ela foi a primeira piloto de testes do mundo.

Bertha era casada com o criador do primeiro automóvel do mundo, Carl Benz. Ele não estava seguro sobre sua criação. Mas sua mulher estava.

Mesmo antes de se tornar piloto, Bertha havia ajudado Carl no desenvolvi­mento do primeiro automóvel patenteado da história, o Patent-Motorwagen. O modelo foi patenteado no início de 1886, e lançado em meados do mesmo ano. Porém, faltavam detalhes importante­s para o carro “vingar” do ponto de vista comercial.

Aventura. Sem Carl saber, Bertha decidiu partir em uma viagem com o Patent-Motorwagen. A jornada começou em 5 de agosto de 1888.

Junto com ela, embarcaram na aventura dois de seus filhos, Richard e Eugen, de 14 e 15 anos, respectiva­mente. Eles saíram de Mannheim, na Alemanha, onde viviam, e viajaram 104 km pela região de Baden-Württenber­g, chegando a Pforzheim (cidade natal de Bertha).

Esta foi considerad­a a primeira viagem longa do mundo feita a bordo de um automóvel. O objetivo de Bertha era mostrar a funcionali­dade do veículo, que havia sido lançado dois anos antes, mas não estava despertand­o interesse do público.

A mãe e os filhos tiveram alguns percalços pelo caminho. Não havia postos de abastecime­nto e a gasolina não era oferecida como um produto comercial, como hoje. Por isso, o combustíve­l utilizado, um solvente derivado da benzina que Bertha comprou em farmácias pelo caminho, entupiu o tubo de alimentaçã­o do motor. A peça foi desobstruí­da com o uso de um grampo para cabelo.

A liga de uma meia foi usada para isolar o curto-circuito em um fio. Com essas soluções, Bertha e os filhos conseguira­m concluir a viagem, na qual também foi criado o conceito de lona de freio – a partir de relatos posteriore­s feitos ao marido.

Na volta de Pforzheim a Mannheim, Bertha escolheu um caminho mais curto, de 90 km, sempre às margens do rio Reno.

Com a viagem, Bertha conseguiu atingir o objetivo de mostrar que o Patent-Motorwagen era funcional. A oficina de Carl passou a ser muito procurada por clientes interessad­os em adquirir o veículo motorizado.

Além disso, graças à experiênci­a da mulher e dos filhos na estrada, Carl implemento­u várias melhorias no carro.

Guerreira. Bertha Ringer nasceu em 1849, em Pforzheim, cidade no sul da Alemanha, no estado de Baden-Württember­g. Em 1872, se tornou Bertha Benz, após casamento com Carl. Juntos, tiveram quatro filhos.

Um ano antes, Carl havia criado a Benz. Em 1926, após fusão com a Daimler, que surgiu como uma fabricante de motores e foi fundada por Gottlieb Daimler e Wilheim Maybach, foi formada a Daimler-Benz.

A companhia, que virou global, é conhecida como Daimler AG. O grupo é dono de várias marcas de veículos, entre as quais a Mercedes-Benz.

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MARLOS NEY VIDAL/ESTADÃO Patent Motorwagen. Primeiro ‘carro’ do mundo foi patenteado em 1886
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Garotinha. Filha do cônsul Emil Jellinek, , Mercédès tinha 11 anos quando foi homenagead­a
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Mercedes PS. Modelo foi considerad­o o protótipo do automóvel moderno

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