‘MEU SONHO É ALIMENTAR 1 MILHÃO DE PESSOAS POR MÊS’
O chef e empreendedor social, David Hertz, à frente da Gastromotiva – ONG com foco em capacitar e alimentar pessoas de baixa renda – conta como transformou suas ações com a crise do coronavírus. “Criamos o projeto das Cozinhas Solidárias nas comunidades. A primeira já distribuiu mais de 200 quentinhas na semana. E já estamos com mais duas saindo do forno.”
Outra mudança foi transformar o Refettorio Gastromotiva – projeto que mantém com o chef italiano, Massimo Bottura e a jornalista, Alexandra Forbes – que serve o jantar para mais de 90 pessoas todas as noites no Rio de Janeiro, em um entreposto para o recebimento de alimentos que serão encaminhados para as comunidades.
O sonho de Hertz é ter, ao menos, 300 cozinhas espalhadas pelo Brasil e assim “alimentar 1 milhão de pessoas por mês.” Confira a seguir.
A Gastromotiva iniciou um novo formato de atuação por causa da crise do coronavírus. Como vai funcionar?
Nós sempre focamos em capacitar e alimentar as pessoas que mais precisam. Por conta da crise do coronavírus, lançamos na semana passada o projeto Cozinhas Solidárias, que, além de gerar renda, também serve alimentação à população que está passando fome. Já temos uma atuando no Rio de Janeiro, fornecendo cerca de 200 quentinhas por semana. Meu sonho é termos 300 cozinhas espalhadas pelo Brasil para atender 1 milhão de pessoas por mês. Tudo isso dependerá das doações que estamos buscando com indivíduos e empresas. Além disso, continuaremos com o nosso DNA de capacitação de profissional, lançando em algumas semanas os nossos materiais de ensino à distância.
Transformaram o Refettorio Gastromotiva, no bairro da Lapa, no Rio, em receptor de doações de alimentos. Como está funcionando essa logística?
O Refettorio Gastromotiva é um dos projetos especiais que temos com o chef Massimo Bottura, da Food for Soul, e a jornalista Alexandra Forbes, com a proposta de atender à população em situação de vulnerabilidade, servindo diariamente o jantar para cerca de 90 pessoas por noite. Diante do início da disseminação da Covid-19 no Brasil, nossa primeira decisão foi fechar as portas do Refettorio, pela segurança da nossa equipe, dos voluntários e de todos os que são atendidos.
Nesse novo formato, trabalhando em home office, surgiu a ideia de usar o espaço físico do Refettorio como um entreposto para o recebimento de doação de alimentos que seriam destinados a outras instituições que se ocupariam de preparar as refeições e servi-las. Toda esta operação fica sob a responsabilidade da Gastromotiva.
Atualmente ajudam 13 organizações e estão ampliando essa rede com as Cozinhas Solidárias. Como essas cozinhas funcionam? Esse é o projeto mais interessante da virada de atuação da Gastromotiva em função do atual cenário da covid-19, porque reúne tanto o contexto do empreendedorismo social, quanto o atendimento à população em situação de vulnerabilidade. Nossa primeira cozinha no Rio já começou a operar neste formato e duas estão em vias de iniciar. Por meio da rede de alunos, ex-alunos e parceiros, planejamos um modelo de cozinhas que possam atender populações em situação de insegurança alimentar. Cada cozinheiro usa a sua própria estrutura para produzir as refeições. Assim se inicia um novo modelo de empreendedorismo social. O projeto prevê a entrega de insumos, pagamento de salário e de custos operacionais, como gás. A Gastromotiva envia alimentos, embalagens e ajuda a gerenciar toda a operação e logística de distribuição das refeições nas comunidades. Dentro do projeto, as cozinhas foram formatadas em três modelos: de grande, média e pequena capacidade, respectivamente, para o fornecimento de 400, 200 e 100 refeições por semana.
Todas as organizações que ajudam ficam no Rio de Janeiro? Até a semana passada, sim. Dentre as 13 organizações estão a Redes da Maré, o Albergue Espaço Solidário (Central do Brasil) e Unidade Municipal de Reinserção Social Dom Hélder Câmara. Agora estamos buscando parceiros em Curitiba, com a prefeitura de SP, com a Gastronomia Periférica e o restaurante Organicamente.
Qual o maior desafio em trabalhar com comida na quarentena?
Para as nossas atuações, definitivamente, os maiores desafios são: a logística de arrecadação e de entrega e a burocracia para doações.
Quanto arrecadaram até agora?
Até dia 1 de abril, recebemos mais de 6,1 toneladas de alimentos, que alimentaram cerca de 9 mil pessoas.
Quem são seus atuais parceiros e como as empresas podem ajudar no projeto das cozinhas?
Temos muitos parceiros nos apoiando nessa empreitada. Dentre os hotéis, destacamos as grandes doações do Hotel Emiliano e do Grand Hyatt. Temos dezenas de restaurantes e estamos negociando com uma rede de supermercados. Porém, como eu disse, nossos sonhos são maiores que os nossos recursos. Estamos buscando doações da indústria de alimentos, de empresas e de indivíduos para que juntos consigamos atingir o sonho de alimentar 1 milhão de pessoas. As doações de alimentos também podem ser feitas diretamente no Refettorio (Rua da Lapa, 108 – Centro, RJ) e as financeiras pelo site: http://gastromotiva.org/faca-uma-doacao. / SOFIA PATSCH