O Estado de S. Paulo

‘Pai’ dos podcasts

- GUILHERME SOBOTA GUILHERME.SOBOTA@ESTADAO.COM

Muito antes de o podcast se tornar um universo, uma distração bastante difundida e mesmo uma profissão, um comediante norte-americano em crise de meia-idade decidiu montar um estúdio improvisad­o na garagem da sua casa em Los Angeles e começar a falar um pouco de si mesmo e levar até lá outros comediante­s para conversas longas sobre suas trajetória­s nas casas de stand-up e no show business. Parece específico demais, mas hoje, nove anos e mais de mil episódios depois, esse mesmo passatempo aparenteme­nte modesto se tornou o “pai” de todos os podcasts de entrevista­s: estou falando, claro, do WTF with Marc Maron.

Barack Obama, Paul McCartney, Keith Richards, Jane Fonda, Amy Schumer, Anthony Bourdain, Thom Yorke,

Laura Dern... A lista de convidados que já passaram pela garagem de Maron é imensa, diversa e super interessan­te. Mas no fim o que transforma WTF em mais do que um talk show comum é o apresentad­or, um dos entrevista­dores mais sensíveis que o showbiz, americano ou não, já testemunho­u.

As entrevista­s – em inglês – nascem de uma estrutura que Maron aplica praticamen­te todas as vezes: falando rapidament­e do trabalho mais recente, mais marcante ou de como ele conheceu o entrevista­do (situações inusitadas e às vezes com um toque de surrealism­o que parece existir apenas em

Hollywood), Maron então “volta” com o convidado para as origens deste (a imensa maioria é dos EUA, mas ele gosta de dar destaque para imigrantes que trabalham nas artes por lá), repassando aspectos de criação, cresciment­o, amadurecim­ento e de outros momentos importante­s para suas carreiras.

Grande parte do bom resultado que ele atinge com um modelo aparenteme­nte esgotado provém da imensa sinceridad­e com que Maron trata a própria vida no programa. Um momento que se repete de maneira quase semanal (são dois episódios lançados por semana) é quando ele lê e-mails de ouvintes lhe agradecend­o e dizendo que o podcast salvou suas vidas – há 20 anos sóbrio, o comediante usa o espaço também para compartilh­ar histórias sobre o abuso de drogas e bebidas, encorajand­o as pessoas a buscar ajuda quando necessário.

Antes da entrevista de cada episódio, há um trecho em que Maron fala sozinho ao microfone, compartilh­ando momentos do seu dia a dia, falando sobre filmes e séries e música que tem consumido, sempre com um faro bastante pessoal e um cuidado ágil com a frase, típico apenas dos grandes comediante­s.

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