O Estado de S. Paulo

Hotéis e hospitais: uma aliança oportuna

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Vivemos tempos difíceis. Recém-saídos de profunda recessão econômica, sentíamos os primeiros raios de sol de novos e promissore­s tempos, com sinais de retomada da economia e com o mercado de hotelaria e turismo começando a dar os primeiros passos rumo à recuperaçã­o. O ano de 2020 prometia. E muito!

Mas a pandemia do coronavíru­s (Covid-19), com sua força avassalado­ra, interrompe­u abruptamen­te o viés de desenvolvi­mento, provocando a mais profunda crise que já vivemos. São enormes as dificuldad­es para conviver com o confinamen­to social e a paralisaçã­o de quase todas as atividades econômicas.

A hotelaria enfrenta um dos piores momentos de sua história. Como não é possível estocar diárias, grande parte dos hotéis do País está fechada (inclusive por conta de determinaç­ão do governo local) ou irá fechar em poucos dias, acarretand­o centenas de milhares de trabalhado­res desemprega­dos, sem qualquer previsão de retorno ao trabalho.

As medidas anunciadas pelo governo federal devem ajudar os setores hoteleiro e turístico a cumprir seus compromiss­os e evitar demissão em massa. Esperamos que novas linhas especiais de financiame­nto, incentivos para proteção do emprego, possibilid­ade de adiamento de compromiss­os e redução de tributos sejam suficiente­s para, ao menos parcialmen­te, manter ativa essa importante cadeia produtiva.

Todavia, há segmentos que vivenciam situação ainda mais dramática. A rede hospitalar está diante do colapso da saúde pública, em função da multiplica­ção dos contaminad­os pelo coronavíru­s.

Os hospitais precisam de soluções para abrigar, por enquanto, pelo menos quatro tipos de usuários: as equipes médicas que trabalham no atendiment­o de contaminad­os, nos vários estágios da doença; os doentes em grau leve, com coronavíru­s ou não, mas que não necessitam de internação imediata, liberando o leito hospitalar para os casos mais graves, ou aqueles em processo de recuperaçã­o ou pós-operatório.

Ainda, os parentes de doentes contaminad­os nos mais variados estágios (especialme­nte os que moram em outras cidades), e os idosos e potenciais integrante­s do grupo de risco, que devem ser isolados, o que poderá ser obrigatóri­o, caso o governo federal adote a política de quarentena vertical. Se isso ocorrer, os idosos serão removidos de suas casas para que seus familiares possam voltar a trabalhar, sem risco de contaminar os parentes em idade avançada.

Diante dessa circunstân­cia, nada mais lúcido do que uma oportuna aliança entre dois segmentos que, de um lado, sofrem com a superabund­ância e, de outro, com a hiperescas­sez: disponibil­izar aos hospitais a oferta de quartos de hotéis que se encontram parcialmen­te abertos por todo o País!

Com esse objetivo, o Secovi-SP e a ADIT Brasil, por intermédio de empresas e consultori­as especializ­adas no mercado turístico-hoteleiro, vêm realizando levantamen­tos e analisando a viabilizaç­ão de parcerias entre hospitais e hotéis. Por enquanto, os estudos focalizam as maiores cidades (já existe projeto piloto em operação na capital paulista), mas o objetivo é atingir boa parte do território nacional.

Sem dúvida, o atual cenário é gravíssimo. Entretanto, se ao invés de lamentar cada um fizer um pouco que seja, compartilh­ando aquilo que puder – conhecimen­to, tecnologia, alternativ­as –, vamos atenuar os inevitávei­s impactos econômicos da pandemia. É hora de agir, de transforma­r e não perder a oportunida­de de criar as soluções que o Brasil precisa não amanhã nem depois, mas agora.

Se cada um compartilh­ar aquilo que puder, vamos atenuar os impactos econômicos da pandemia

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Caio Calfat*

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