O Estado de S. Paulo

Estados poderão ter mais 10% de dívidas

Plano da Câmara autoriza Estados a contraírem dívidas novas no valor de até 65 bilhões, além dos R$ 565 bi do fim do ano passado

- Adriana Fernandes Camila Turtelli / BRASÍLIA

O projeto de socorro, em discussão na Câmara, autoriza os Estados a aumentar em 10% o estoque de suas dívidas, algo entre R$ 55 bilhões e R$ 65 bilhões em novos empréstimo­s.

O projeto emergencia­l de socorro aos Estados que está em discussão na Câmara dos Deputados autoriza aumentar em 10% o estoque de suas dívidas, algo entre R$ 55 bilhões e R$ 65 bilhões em novos empréstimo­s, além do volume de R$ 565 bilhões do fim do ano passado.

O cálculo foi feito pela Instituiçã­o Fiscal Independen­te (IFI) do Senado. Além de suspender o pagamento de parcelas de dívidas com a União e bancos, o projeto permite aos governador­es tomar crédito novo no limite de até 8% de suas receitas.

A votação do projeto foi interrompi­da ontem depois de uma guerra de números sobre o impacto da proposta que colocou de lado opostos o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ), e o governo federal. Economista­s alertaram para os efeitos nocivos do projeto nas contas públicas para além do fim da calamidade pública causada pela covid-19, ultrapassa­ndo o ano de 2020.

Durante a votação, começou a circular a informação que artigo incluído no projeto facilitari­a diretament­e o Rio de Janeiro – Estado de Maia –, piorando ainda mais o clima para a votação.

Articulado­r do projeto, o presidente da Câmara, que pretendia concluir a votação da proposta ontem mesmo, decidiu suspender a sessão. “A matéria tem ainda muita polêmica, muita gente querendo incluir temas de municípios, outros querendo tirar”, admitiu Maia pouco antes de interrompe­r a sessão.

Depois de lido o texto, a equipe econômica calculou que o impacto do projeto chegava a R$ 159,7 bilhões (à tarde em versão anterior, o projeto custava aos cofres públicos R$ 190 bilhões).

Já o relator, deputado Pedro Paulo (DEM-RJ), disse ao Estado que não passa de R$ 50 bilhões.

Controvérs­ia. Maia também contestou os números do governo e dos economista­s Marcos Lisboa e Marcos Mendes, que ao longo do dia publicaram um artigo no Brazil Journal, calculando o impacto em R$ 150 bilhões. Para Maia, o impacto fiscal do novo projeto é de R$ 35 bilhões, mais um volume de empréstimo na ordem de R$ 50 bilhões.

Segundo Pedro Paulo, o cálculo de impacto de R$ 180 bilhões feito pela equipe econômica inclui medidas já adotadas pelo governo para os municípios e a suspensão de pagamento de dívidas durante a calamidade. “São contas diferentes”, afirmou.

Para o diretor executivo da IFI, Felipe Salto, o novo texto que se criou como alternativ­a ao Plano Mansueto é muito ruim. “O custo recairá sobre a União, passada a tempestade, e o problema fiscal será maior do que antes da crise”, disse Salto.

Ele advertiu que a proposta permite a contrataçã­o de dívida nova pelos Estados e municípios em até 8% da Receita Corrente Líquida (RCL), sem olhar para nenhuma condição ou limite. “Agora, é hora de gasto descentral­izado financiado com dívida da União. O que precisamos agora não é contratar mais custos e riscos para o futuro, uma herança que será muito difícil de manejar”, ressaltou o diretor da IFI, que tem como missão avaliar o impacto das medidas em tramitação no Congresso.

A ampliação dos limites de endividame­nto dos Estados nos anos que se seguiram à crise financeira de 2008 levou à situação de penúria e excesso de dívidas estaduais. Muitos dos recursos estaduais foram utilizados para criar gastos permanente­s. Mesmo antes da crise do coronavíru­s, muitos governador­es estavam sem dinheiro até mesmo para pagar salários.

Pedro Paulo negou com veemência que tenha incluído no seu relatório “jabuti” para ajudar o seu Estado, o Rio de Janeiro, que está em Regime de Recuperaçã­o Fiscal (RRF), programa de socorro do governo federal.

 ?? MICHEL JESUS /AGENCIA CAMARA ?? Iniciativa. Presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) articula projeto para ajudar Estados
MICHEL JESUS /AGENCIA CAMARA Iniciativa. Presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) articula projeto para ajudar Estados

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil