O Estado de S. Paulo

Americanos ainda precisarão da voz que propõe o impossível

- ✽ ANÁLISE: Paul Waldman / THE WASHINGTON POST É COLUNISTA

Bernie Sanders suspendeu sua campanha. Em declaração ao vivo, ele se concentrou na “luta ideológica”, que ele insiste ter vencido. Isso pode ser entendido como uma luta para mudar o equilíbrio entre imaginação e praticidad­e. Como muitos radicais, Sanders passou muito mais tempo pensando em como traduzir seus princípios em políticas do que em como transforma­r suas propostas em leis. Ele acredita que, se você limitar suas ideias ao que parece possível, você cederá ao establishm­ent, pois é ele que controla o que é politicame­nte possível. Enquanto você fizer isso, mudanças profundas nunca ocorrerão.

Do outro lado está Joe Biden, que apoiaria muitas propostas de Sanders, se pudesse estalar os dedos e fazê-las acontecer. Mas, como muitos democratas, Biden entende as restrições do Congresso, de grupos de interesse e da opinião pública – e tenta criar propostas que se encaixem a essas restrições. É por isso que as ideias de Biden estão mais à esquerda do que as de Barack Obama. Não porque ele seja mais radical, mas porque o espaço político expandiu-se e hoje propostas como um salário mínimo de US$ 15 por hora são mais viáveis. Sanders diz que é por causa dele. O que é verdade, pelo menos em parte.

Mas Biden tem um bom argumento ao seu lado, que é a diferença entre ser presidente e ser ativista. Como candidato, Sanders pode defender um sistema de saúde universal, mas um presidente precisa de apoio para aprovar uma reforma desse tamanho. Encontrar o equilíbrio entre ideias e restrições políticas é um dos principais desafios de um governo. Portanto, essa será a tarefa de Sanders, se Biden for eleito: ser a voz da imaginação e pressionar Biden a não aceitar tão facilmente as restrições da política. Não estava nos planos de Sanders se tornar presidente – e talvez seja melhor assim. Ele já mostrou que, do lado de fora, pode ajudar a expandir o escopo do possível.

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