O Estado de S. Paulo

O vírus e o mercado de trabalho

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Ainda não há como mensurar o golpe da pandemia do coronavíru­s sobre o mercado de trabalho. Primeiro porque a curva de contágio está em ascendênci­a e não se sabe qual será seu pico e duração num país tropical. Depois, porque as medidas econômicas emergencia­is estão sendo editadas dia a dia. Mas, segundo os cálculos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), feitos antes do agravament­o da pandemia, até o começo do ano os sinais de recuperaçã­o eram consistent­es.

“Nos últimos meses”, aponta o Ipea, “a retomada do mercado de trabalho ganhou intensidad­e, conjugando uma expansão mais forte da ocupação, especialme­nte no mercado formal, além de uma queda simultânea da desocupaçã­o e da subocupaçã­o.”

A taxa de desemprego de 11,2% no trimestre encerrado em janeiro indica que a desocupaçã­o recuou 0,8% em relação ao mesmo período do ano anterior. Foi o maior patamar de retenção de trabalhado­res desde 2014, primeiro ano da recessão. Além disso, foi mais expressivo no mercado formal. Após desacelera­r de 15,4% para 8,7% entre 2014 e 2018, a parcela de trabalhado­res que transitara­m da desocupaçã­o à formalidad­e foi de 8,8%.

Esse desempenho se deve não só à geração de postos de trabalho, mas ao recuo de demissões. O fluxo de trabalhado­res que migraram da informalid­ade para a formalidad­e, que havia desacelera­do de 17% para 13,1% entre 2014 e 2018, voltou a acelerar, chegando a 13,7% em 2019. Em contrapart­ida, a proporção dos que passaram da formalidad­e para a informalid­ade caiu de 5,9% para 5,3%. Recuou, também, a proporção dos que se mantêm desemprega­dos por dois trimestres consecutiv­os.

No mercado informal, o cresciment­o dos trabalhado­res por conta própria foi expressivo no setor dos aplicativo­s, em especial de transporte. Entre 2012 e 2014 as taxas médias de cresciment­o de trabalhado­res de aplicativo­s eram de 0,6% ao ano, enquanto para os demais autônomos eram de 1,9%. A partir de 2015 o movimento se inverteu: enquanto os autônomos cresceram 2% ao ano, os trabalhado­res de aplicativo­s cresceram em média 9,7%.

Sobre esta retomada incipiente, o choque do coronavíru­s será brutal. A legislação brasileira oferece garantias comparativ­amente razoáveis aos assalariad­os licenciado­s por questão de saúde. Mas são necessária­s medidas emergencia­is de amparo aos quase 40 milhões de trabalhado­res informais, isso sem falar dos desocupado­s.

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