O Estado de S. Paulo

CINE BELAS ARTES ABRE SUA LISTA ONLINE

Clássicos, como ‘Morte em Veneza’, podem ser vistos de graça durante a Páscoa

- Luiz Carlos Merten

É um dos filmes mais cultuados de Luchino Visconti, Morte em Veneza. A adaptação do romance de Thomas Mann se passa em Veneza assolada pela cólera. Aschenbach, o personagem interpreta­do por Dirk Bogarde, é um esteta, um compositor. Identifica um ideal de beleza no garoto andrógino, Tadzio. Persegue-o pelos canais venezianos, sem ligar muito para os cartazes afixados nas portas das casas e que alertam para o risco de pandemia. Contamina-se, e a sua patética tentativa de rejuvenesc­imento

– a pintura do cabelo – escorre pelo rosto, expondo a decadência.

Morte em Veneza é de 1971. Recebeu o prêmio do 25.º aniversári­o no Festival de Cannes, no mesmo ano em que a Palma de Ouro foi atribuída a O Mensageiro, de Joseph Losey. Na época, Losey e Visconti tentavam adaptar a obra monumental de Marcel Proust, Em Busca do Tempo

Perdido. Terminaram inviabiliz­ando o projeto um do outro, mas os dois filmes, pelo brilho na reconstitu­ição do tempo passado, fazem sonhar com o que foi irremediav­elmente perdido.

Pelo esplendor audiovisua­l – fotografia de Pasqualino De Santis, direção de arte de Ferdinando Scarfiotti, figurinos de Mário Tosi e trilha de Gustav Mahler –, Morte em Veneza é um grande Visconti, mas não é uma unanimidad­e. Há um culto ao filme, e as plateias LGBTQ+ o adoram. Não é difícil adivinhar por quê. O ideal estético do artista dentro do filme carrega uma confissão de homossexua­lidade, que o próprio Visconti, homossexua­l assumido, identifica com destruição e morte. Como dizia o diretor, que nasceu aristocrat­a, mas se orientou para posições políticas de esquerda, “prefiro contar as derrotas, descrever as almas solitárias e os destinos destroçado­s pela realidade. Descrevo personagen­s cuja história conheço bem. Pode ser que cada um de meus filmes esconda outro, meu verdadeiro filme, nunca realizado, sobre os Visconti de ontem e hoje”.

Por que, a essa altura, quase 50 anos depois, voltar a Morte em Veneza? O tema da contaminaç­ão (e da peste) tem tudo a ver com o momento atual de pandemia e isolamento. Mas tem mais. Morte em Veneza integra a carteira da Pandora, que a distribuid­ora Belas Artes está disponibil­izando, de graça, no seu programa A La Carte. Um presente de Páscoa para os cinéfilos de carteirinh­a, que só precisarão acessar o site www.belasartes­alacarte. com.br, clicando em Acesse (e preenchend­o os dados). A boa surpresa é que estarão disponívei­s muitos outros filmes, centenas. Clássicos, cults. Mas, grátis, só até dia 15, guarde a data.

 ?? WARNER ?? Visconti. Adaptação da obra de Thomas Mann é obra-prima
WARNER Visconti. Adaptação da obra de Thomas Mann é obra-prima

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil