O Estado de S. Paulo

A ARTE CONTRA O CORONAVÍRU­S

Caco Ciocler monta Lista Fortes Brasil, ação voltada às empresas no combate à pandemia

- Leandro Nunes / L.N.

Desde que inventou a Lista Fortes Brasil, em alusão à revista norte-americana Forbes, o ator Caco Ciocler não parou de trabalhar em confinamen­to. “Já me apareceram seis projetos remotos”, conta em entrevista por telefone ao Estado. O site lançado nesta quinta-feira, 9, e disponível a partir das 18h, é uma convocatór­ia a empresas privadas que queiram doar 1% de seu lucro líquido para investimen­tos em ações de combate à pandemia do novo coronavíru­s. “A referência é à lista dos EUA, bastante competitiv­a e que acaba definindo o prestígio de instituiçõ­es com grandes fortunas. Aqui a Lista Fortes Brasil vai posicionar grandes empresas que sempre faturaram e agora precisam oferecer seu apoio mínimo para quem mais precisa”, conta.

Como recompensa pela ajuda, as empresas terão seus nomes divulgados e serão relacionad­as como instituiçõ­es modelo, tanto no investimen­to de recursos quanto na preocupaçã­o de manter empregos. Tudo começou quando o ator lançou um vídeo em suas redes explicando a ação. Não demorou muito para que colegas artistas e personalid­ades, com milhões de seguidores, procurasse­m Ciocler para participar de uma iniciativa “que já não tem tamanho”, e que traz nomes confirmado­s como Gilberto Gil, Marília Gabriela, Alice Braga, Alexandre Nero e Rodrigo Santoro. “O que estamos vivendo é inédito por muitos motivos, penso que, no futuro, nos voltaremos a esse momento para entender o que aconteceu. Até lá, precisamos superá-lo”, defende.

A adesão massiva de artistas surpreende­u Ciocler, que agora vive em meio a reuniões com interessad­os nos projetos, tomando boa parte de seu tempo na quarentena. Semanas antes disso, ele estava prestes a estrear novo espetáculo, Língua Brasileira, dirigido por Felipe Hirsch, mas a montagem sequer teve tempo de ser noticiada. Ciocler lembra que os ensaios no Teatro Anchieta, do Sesc Consolação, começaram a parecer perigosos demais. “A gente tentava manter a distância uns dos outros. Ainda não havia orientaçõe­s sobre, por exemplo, se podia chegar perto do outro.”

Após o fechamento das 43 unidades do Sesc em São Paulo e de tantos outros espaços culturais na capital e no Estado, ele preferiu fazer um movimento contrário ao de muitos artistas que passaram a divulgar seus

ADESÃO MASSIVA DE ARTISTAS SURPREENDE­U O ORGANIZADO­R

trabalhos nas redes sociais, realizando leituras de peças e versões adaptadas de espetáculo­s. “Não há previsão de que a gente volte a se reunir tão cedo. Na arte, esse encontro é bastante essencial e o teatro talvez seja o mais afetado. Entre os projetos que me envolvi, está o de uma websérie, uma alternativ­a. É claro que o artista vai ter que se reinventar, assim como todas as profissões. Talvez o teatro volte de um jeito diferente, ou a gente vai descobrir um outro jeito de estar no palco”, explica.

E o impacto no segmento cultural, que já traz prejuízos para espaços culturais, cinemas e casas de shows, serve para desmontar antigas críticas aos artistas, segundo o ator. “A busca por séries, filmes e livros e entretenim­ento colocou o público em um novo patamar com o artista. Fazemos um trabalho que merece respeito e espaço.”

Para ele, o mesmo ocorre com os médicos. “Nos últimos anos, os cientistas estavam enfrentand­o o mesmo lugar de renegados, junto aos artistas. Não duvido que este momento crítico vá resgatar a importânci­a do investimen­to em pesquisas, além da mão forte agindo na saúde pública do País.”

Outra boa prática disseminad­a por Ciocler em suas redes é a sugestão de que os serviços de delivery incluam taxa de 10% para que seja dividida entre a equipe de entrega e os garçons. “Os estabeleci­mentos estão fechados, os garçons não estão trabalhand­o e passam por muita necessidad­e. Eu espero que você, dono de restaurant­e, tenha conseguido manter o emprego dos garçons. E, mesmo assim, eles estavam acostumado­s a receber a taxa dos 10%”, disse.

Se a quarentena aumentou a procura por serviços de entregas de alimentos e produtos por aplicativo­s, o pessoal dos restaurant­es ficou descoberto. “A minha sugestão é que você, que continua trabalhand­o, fazendo o serviço de delivery, inclua essa taxa adicional de 10% nas compras. E você, que está em casa e com condições, pague essa taxa. E que essa taxa seja dividida entre os garçons e os entregador­es. Assim, a gente ajuda as pessoas que estão passando por um momento difícil”, defendeu o ator em um dos vídeos.

Em casa, Ciocler dispensou a diarista, mas manteve o pagamento à profission­al. Ele contou à reportagem que, nos últimos dias, além das reuniões com os artistas acima citados, conversou com os cineastas Guel Arraes e Jorge Furtado, agora responsáve­is pelo roteiro da campanha. Amir Admoni é autor da animação e a atriz Nathália Timberg emprestará sua voz para a ação. “Reuni artistas e gente da televisão porque estão mais próximos a mim. As próximas etapas devem incluir atletas olímpicos, campeões mundiais, pessoas com milhões de seguidores em suas redes, diferentes públicos – uma garantia de que conseguire­mos espalhar essa missão por todo Brasil”, completou.

Para não focar apenas em empresas milionária­s, os projetos também incluem faixas e segmentos direcionad­os a orçamentos mais modestos de micros e médias empresas.

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Campanha. Ator engajado em projetos

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