Bolsonaro chama mídia estrangeira de esquerdista
Presidente brasileiro volta a ser alvo da imprensa internacional; ‘Financial Times’ diz que governo está levando Brasil ao ‘desastre’
Revista americana Time traz reportagem com o título “Brasil começa a perder a luta contra o coronavírus – e seu presidente está olhando para o outro lado”. Os jornais Financial Times, The Telegraph e The New York Times também publicaram textos com críticas ao presidente. “A imprensa mundial é de esquerda. O Trump sofre muito com isso”, disse Bolsonaro.
O presidente Jair Bolsonaro atribuiu ontem a imagem ruim do Brasil no exterior ao fato de a imprensa internacional ser “de esquerda”. “A imprensa mundial é de esquerda. O (Donald) Trump (presidente dos EUA) sofre muito com isso”, disse o presidente a uma apoiadora na saída do Palácio da Alvorada.
Bolsonaro vem sendo duramente criticado pela imprensa internacional. Ontem foi a vez de o Financial Times publicar um artigo afirmando que ele está levando o Brasil ao “desastre” com sua condução da crise. Fundado em janeiro de 1888 – pouco antes de a princesa Isabel assinar a Lei Áurea –, o Financial Times é um jornal focado em temas econômicos e de forte caráter liberal.
A crítica a Bolsonaro foi assinada pelo colunista Gideon Rachman, o principal analista de assuntos externos do jornal. No texto, ele disse que o presidente brasileiro adotou uma abordagem semelhante à de Donald
Trump, mas ainda mais “irresponsável e perigosa”.
“Ambos os líderes ficaram obcecados com as propriedades supostamente curativas da hidroxicloroquina. Mas, enquanto Trump está apenas tomando o produto, Bolsonaro forçou o Ministério da Saúde a emitir novas diretrizes, recomendando o medicamento para pacientes com coronavírus”, escreveu. “O Brasil está pagando um preço alto pelas palhaçadas de seu presidente.”
No fim de semana, a revista americana Time publicou uma reportagem com o título “Brasil começa a perder a luta contra o coronavírus – e seu presidente está olhando para o outro lado”. “O presidente pode ainda sobreviver, mas muitos cidadãos brasileiros não vão”, afirmou a reportagem, ao falar que Bolsonaro incentiva as pessoas a abandonarem o isolamento social.
O texto contextualiza ainda a crise política provocada pelo presidente contra governadores que apoiam medidas restritivas para combater a doença, além das demissões dos ministros da Saúde, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, e de seus atritos com o ex-ministro da Justiça Sergio Moro, que acusou Bolsonaro de interferir na Polícia Federal para proteger parentes. Moro, ao ser entrevistado pela
disse que a “dificuldade no combate à pandemia no Brasil” ocorre em razão da posição “negacionista” de Bolsonaro.
O Telegraph, tradicionalmente alinhado ao conservadorismo britânico, publicou ontem que o Brasil enfrenta uma “implosão política” e um vírus mortífero fora de controle. “Bolsonaro, agora, pode se tornar conhecido como o homem que quebrou o Brasil”, disse o diário, que descreve o presidente como “um líder ciumento e vingativo dirigindo uma nação em crise”.
No domingo, foi a vez do New York Times. O jornal americano chamou o brasileiro de “cético pandêmico”. “Enquanto hospitais entravam em colapso, Bolsonaro passou os últimos meses brigando com a Suprema Corte, com o Congresso e até com seus ministros”.
Críticas “O Brasil já está pagando um preço alto pelas palhaçadas de seu presidente” TRECHO DE REPORTAGEM DO ‘FINANCIAL TIMES’
“O presidente pode ainda sobreviver, mas muitos cidadãos não vão” TRECHO DE TEXTO DA REVISTA ‘TIME’