O Estado de S. Paulo

1 em 4 alunos não pagou faculdade

Levantamen­to é de entidade que representa o setor; índice de evasão aumenta 32,5%

- Paula Felix

A inadimplên­cia no ensino superior privado subiu de 15,3% para 26,3% em abril, ante o mesmo mês de 2019. Já a taxa de alunos que trancaram matrícula ou desistiram do curso cresceu 32,5%.

Com a pandemia do novo coronavíru­s, a taxa de inadimplên­cia nas instituiçõ­es de ensino superior privado do País aumentou de 15,3% para 26,3% em abril, ante o mesmo mês do ano passado. Com isso, o índice de universitá­rios em dívida aumentou 72% no período. O levantamen­to foi divulgado ontem pelo Semesp, que representa instituiçõ­es do ensino superior privado. A entidade projeta que, se a situação continuar, um quinto das instituiçõ­es (21%) não conseguirá quitar a folha de pagamento de junho.

Já a taxa de estudantes que trancaram a matrícula ou desistiram do curso subiu 32,5% em abril em relação ao mesmo período de 2019, conforme a pesquisa. Os dados de inadimplên­cia e evasão correspond­em a 146 instituiçõ­es de ensino superior e são referentes a cursos presenciai­s e a distância. No Brasil, três em cada quatro universitá­rios estudam em uma instituiçã­o particular.

“Neste momento, a gente quer ver o impacto da pandemia, da paralisaçã­o das aulas presenciai­s e da crise econômica. O estrago só não é maior porque teve o ingresso de alunos no primeiro semestre, antes da pandemia, e 70% dos alunos ingressam no primeiro semestre”, diz Rodrigo Capelato, diretor executivo do Semesp, que representa 708 instituiçõ­es de ensino superior no País.

No recorte que avaliou a taxa de evasão, a alta foi puxada pela desistênci­a em cursos presenciai­s: 47% em relação a abril de 2019, principalm­ente de calouros. Nos cursos online, que costumam ser mais baratos, a taxa caiu 2,6% no período. Com a quarentena, muitas faculdades passaram a ampliar as classes remotas para alunos de graduações presenciai­s como forma de não paralisar as atividades.

O levantamen­to do Semesp também avaliou o impacto da pandemia de acordo com o porte das instituiçõ­es. As de grande porte, com mais de 7 mil alunos, sofreram mais com a inadimplên­cia: a taxa foi de 29,5%, enquanto as de pequeno e médio porte tiveram índice de 25,2%. A situação se inverte no quadro que analisou a evasão, onde o porcentual foi maior nas instituiçõ­es pequenas e médias, de 2% para 3,1%. Nas de grande porte, subiu de 1,8% para 1,9%.

“Houve ingresso de novos alunos e, depois de 15 a 20 dias, as aulas foram suspensas no modelo presencial e ocorreu a deterioraç­ão da renda de alunos e das famílias. Em abril, a taxa de evasão é historicam­ente baixa, mas cresceu”, diz Capelato. “O efeito da crise se dá mais fortemente na inadimplên­cia do que na evasão, porque a pessoa quer fazer o curso superior, mas a falta de dinheiro impede que pague a mensalidad­e”, completa.

“Se continuar nesse ritmo de cresciment­o, 21% das instituiçõ­es não vão conseguir pagar a folha de pagamento em junho e 39% das instituiçõ­es terão prejuízo superior a 20% da receita líquida em 2020.” Capelato analisa que, se reduções de mensalidad­es forem aplicadas, o cenário pode ser ainda mais grave.

Neste mês, a Fundação Procon de São Paulo emitiu nota técnica em que prevê negociação entre as instituiçõ­es de ensino superior particular­es e os alunos para tratar do pagamento de parcelas durante a pandemia (leia mais ao lado). O órgão de defesa do consumidor não incluiu, porém, recomendaç­ão de

descontos, com o entendimen­to de que essa perda de receita traria danos significat­ivos ao setor. No mês passado, a União Nacional dos Estudantes (UNE) lançou abaixo-assinado pedindo

redução de mensalidad­es na rede privada.

Para Capelato, ampliar o Fies – programa federal de financiame­nto em faculdades privadas, hoje com cerca de 100 mil vagas anuais – e garantir linhas de crédito às instituiçõ­es poderiam dar fôlego às faculdades.

‘Tempestade perfeita’. Para Hugo Cysneiros, advogado da Associação Nacional de Educação Católica do Brasil, o ensino superior foi atingido por uma “tempestade perfeita”, já que o setor ainda não havia se recuperado da crise econômica.

Ele também diz que, por causa do ensino remoto adotado por parte das escolas na pandemia, alguns alunos entenderam que o serviço é diferente daquele que foi previsto no contrato – no caso, o ensino presencial. “Ainda que esteja sendo prestado, para eles não justifica estar sendo cobrado da mesma forma.”/ COLABOROU RENATO VIEIRA

Sisu. Ontem, o MEC liberou a inclusão de vagas em cursos a distância oferecidos por universida­des públicas no Sistema de Seleção Unificada (Sisu). A mudança permitirá que alunos utilizem a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para concorrer a vagas em cursos não presenciai­s.

As alterações nas regras do Sisu passam a valer para o processo seletivo do segundo semestre deste ano. A previsão é que as inscrições ocorram entre 16 e 19 de junho.

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HÉLVIO ROMERO / ESTADÃO - 10/11/2019 Crise. Estudantes deixam os cursos e instituiçõ­es temem não conseguir pagar salários

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