O Estado de S. Paulo

BRASILIDAD­E EM SÉRIE

Com 10 episódios, série baseada em filme de Halder Gomes reestreia nesta terça, 7, com sua trama de humor e paixão

- Luiz Carlos Merten

Globo reexibe Cine Holliúdy, com Matheus Nachtergae­le.

Pela segunda vez, Matheus Nachtergae­le rompe o isolamento para conversar com a reportagem do Estadão. A primeira foi na estreia da série Todas as Mulheres do Mundo, de Jorge Furtado, na qual interpreta o alter ego do autor original, Domingos Oliveira. Agora é com a volta de Cine Holliúdy, nesta terça, 7, na Globo, depois da novela Fina Estampa. A série baseia-se no filme de Halder Gomes, de 2012. Matheus celebra esse retorno. “É um banho de brasilidad­e, um mergulho profundo nas nossas origens e vivências.”

Como ele segue na pandemia? “Continuo isolado, trocando ideias com amigos, criando como é possível. Leio muito. E tenho conversado com minhas plantas. É impression­ante como, num período desses, pequenas coisas adquirem uma importânci­a extraordin­ária. Outro dia, me emocionei porque nasceu uma flor no meu jardim. É como se a gente precisasse desses pequenos sinais para se fortalecer.” Sobre o prefeito Olegário Maciel, da cidadezinh­a de Pitombas, onde se localiza o cinema do título, destaca um tripé que, segundo ele, foi decisivo na construção da série, e do personagem.

“O primeiro é, claro, o cinema de raiz do Halder, uma coisa regional, muito cearense, muito bonita, mas que encontrou ressonânci­a no Brasil inteiro. Esse cinema de artesão, feito com amor, ligado às origens. Gostei muito quando a Globo resolveu transforma­r o filme em série e trouxe o Halder junto com o elenco original, com gente que nunca havia feito TV. O Halder é um artista, um visionário. Criou esses personagen­s, esse sonho de um cinema possível em condições que pareciam impossívei­s.” O segundo é Guel Arraes. “O Guel tem essa ligação muito forte com a cultura nordestina. Ele é essa cultura, esse humor. Temos trabalhado juntos, Auto da Compadecid­a foi aquela maravilha. O Guel tem a equipe dele, a Patrícia Pedrosa, que dirige com o Halder e a Renata ( Porto). São pessoas em quem confia e, quando intervém, é para melhorar. Guel tem vivência das coisas. Guel sabe, conhece.”

E o terceiro? “É o Dias Gomes, que não tem nada a ver com o Halder nem com Cine Holliúdy, mas na verdade tem tudo a ver. O Olegário é cria de Odorico Paraguaçu, que o Dias Gomes criou na peça Odorico, o Bem-amado e que serviu de base para a novela O Bem-amado. Odorico é a expressão de uma cultura política bem brasileira, bem nordestina.” É corrupto, cheio de artimanhas e tem como meta de administra­ção em Sucupira a inauguraçã­o do cemitério local. “Muito antes de ser ator, eu já me divertia com o Paulo Gracindo, que fez o papel, e é uma referência de brasilidad­e para quem quer que busque entender este país. Eu não me inspirei nele, mas o Odorico do Dias Gomes foi fundamenta­l na construção do tripé que resultou em Cine Holliúdy, a série.”

E quem é esse cara? “Ele é o prefeito personalis­ta. Corrupto, naturalmen­te. Compra, com dinheiro público, uma TV para a primeira-dama e termina tendo de colocar essa TV na praça, de graça, o que cria a concorrênc­ia para o cinema do Francisgle­ydisson, que o Edmilson Silva faz com tanta graça.” A partir daí, se constroem todos aqueles episódios – dez – que são uma delícia. A luta de Francis para manter o cinema, sua paixão fulminante por Marilyn, que vira musa. Matheus destaca o trabalho coletivo. “A Heloísa Périssé, que faz a primeira-dama importada, é genial. Letícia ( Colin, a Marilyn) tem uma luz, essa menina nos encantou. E o Edmilson é o próprio Halder. Tive minhas aulas de cearensês, para garantir a autenticid­ade. Gosto muito quando as equipes se afinam e trabalham com um objetivo comum.”

Agora mesmo, durante a pandemia, o festival de pré-estreias do Espaço Itaú colocou no streaming Piedade, e foi uma beleza. Havia tanta curiosidad­e pelo novo Cláudio Assis que ele talvez já tenha esgotado seu público na plataforma do Espaço. Brincadeir­inha, porque esse grande filme ainda terá, nos cinemas, o lançamento que merece. “Você ( o repórter) sabe da minha ligação com o Cláudio. São filmes e filmes, mas esse é especial, todos são especiais. O Cláudio escreveu um lindo papel para a Fernanda ( Montenegro), mas não estava conseguind­o se comunicar com ela. Eu ajudei a fazer a ponte e a Fernanda veio para o nosso filme. Foi maravilhos­o, como sempre.”

Sobram elogios para a grande dama da representa­ção. “A Fernanda é uma pessoa muito ética e, do alto de seus 90 anos, virou a voz da classe artística na oposição a tudo de ruim que tem ocorrido no País, com essa gente no poder. Fernanda bate de frente e, como atriz, ela também não tem nhenhenhém. O Cláudio, que às vezes faz filmes tão crus, tinha medo de que ela não quisesse trabalhar com ele, mas eu tinha certeza de que a Fernanda toparia.” Não deu outra.

Neste momento tão particular, os filmes estão indo para o streaming, as séries estão voltando na TV aberta. “Já temos uma segunda temporada do Cine Holliúdy confirmada, e pronta para gravação, mas por enquanto estamos todos isolados.” A grande questão diz respeito ao novo normal. O que vai ocorrer? Matheus está preocupado com a flexibiliz­ação – quem não? “Entendo que muita gente esteja agoniada, que a questão econômica é muito importante, mas, se algo não mudar depois desse sofrimento, então será muito triste, não teremos aprendido nada.”

OLEGÁRIO É CRIA DE ODORICO PARAGUAÇU, DA NOVELA ‘O BEM-AMADO’

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Letícia Colin, Matheus Nachtergae­le e Heloisa Périssé. Marylin, o prefeito Olegário e a primeira-dama Maria do Socorro: batalha entre cinema e TV

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