O Estado de S. Paulo

Ação contra o desmatamen­to usa 0,7% da verba

Operação chefiada por Mourão usa militares para combater devastação da Amazônia; fundo específico de programa ainda não foi liberado

- André Borges / BRASÍLIA COLABORARA­M MARLLA SABINO, GUSTAVO PORTO

Anunciada há dois meses como principal estratégia para reduzir o desmatamen­to da Amazônia, a operação militar Verde Brasil 2 executou apenas 0,7% do orçamento previsto de R$ 60 milhões e já tem ações paralisada­s.

A operação militar Verde Brasil 2, anunciada no início de maio pelo governo de Jair Bolsonaro como a principal estratégia para reduzir o desmatamen­to que assola a Amazônia, executou, até o momento, apenas 0,7% de seu orçamento previsto, engessamen­to que tem impacto na operação e que já paralisa ações planejadas em campo.

A investida militar na floresta, que é liderada pelo vice-presidente da República, Hamilton Mourão, foi anunciada com o aporte “inicial” de R$ 60 milhões. O Estadão apurou, no entanto, que até a última sexta-feira somente R$ 2,323 milhões do orçamento previsto tinham sido empenhados, ou seja, reservados para o pagamento de serviços executados. Isso equivale a 3,8% do total planejado. Desse valor empenhado, apenas R$ 454 mil já tinham sido efetivamen­te pagos, menos de 1%.

Os números foram levantados pela Contas Abertas no Sitema Integrado de Administra­ção Financeira (Siafi), a pedido do Estadão. Os dados frustram até mesmo o valor oficialmen­te autorizado até agora para a operação. O recurso total disponível até o momento tem limite de R$ 7,5 milhões.

Por meio de nota, o Ministério da Defesa declarou que “o assunto recursos está sendo equacionad­o no âmbito do Conselho da Amazônia Nacional da Amazônia Legal, responsáve­l pela coordenaçã­o do tema”. Numa segunda abordagem, a Defesa admitiu que, na realidade, ainda não recebeu nada do que estava previsto.

“Uma vez que os fundos específico­s para a Operação Verde Brasil 2 ainda não foram disponibil­izados pela área econômica, o Ministério da Defesa adiantou recursos orçamentár­ios previstos específico­s da rubrica de (Garantia da Lei e da Ordem) GLO para o pagamento de horas de voo iniciais da operação.”

Em princípio, a investida militar teria duração de um mês, mas foi renovada em 10 de junho para mais um mês. Na divulgação da operação, a Defesa declarou que foi mobilizado efetivo de 3,8 mil profission­ais e de 110 viaturas. Na semana, em algumas bases já montadas, militares tiveram agendas canceladas, quando deveriam sair para ações em campo. A Defesa nega que o programa tenha enfrentado paralisaçõ­es.

Mourão. O vice-presidente disse ontem haver preocupaçã­o que as questões ambientais relacionad­as à Amazônia sejam usadas para adoção de medidas protecioni­stas. A declaração foi dada em live promovida pelo Credit Suisse. “Temos consciênci­a da recente ressonânci­a da problemáti­ca ambiental junto aos países desenvolvi­dos, sobretudo na Europa. No entanto, nos preocupa que as questões ambientais e mais especifica­mente o complexo cenário da Amazônia venham a ser utilizados como pretexto para adoção de medidas protecioni­stas e prejudique­m o comércio externo brasileiro.”

Nas últimas semanas, dados sobre a alta de desmate na Amazônia motivaram reação de investidor­es internacio­nais, que ameaçaram retirar investimen­tos do Brasil caso não haja esforço do governo para conter o problema. /

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MARX VASCONCELO­S–27/6/2020 Prazo. Ação militar era prevista para durar um mês, mas foi prorrogada por mais 30 dias

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