O Estado de S. Paulo

MPF mira compra de Portinaris por offshore

Investigad­ores veem lavagem de dinheiro em negociação de quadros por conta no exterior ligada à filha de Serra

- Paulo Roberto Netto Rayssa Motta Fausto Macedo

O Ministério Público Federal mira suposta compra e venda de quatro obras do pintor Cândido Portinari pela offshore Dortmund, gerida por Verônica Serra, filha do ex-ministro José Serra (PSDB-SP) e alvo de investigaç­ões da Lava Jato sobre lavagem de dinheiro. A transferên­cia teria sido feita pela Hexagon, offshore controlada pelo empresário José Amaro Ramos, acusado de usar contas no exterior para fazer repasses ao tucano.

A informação consta em pedido de reconsider­ação contra decisão do juiz Diego Paes Moreira, 6.ª Vara Criminal Federal de São Paulo, que autorizou as diligência­s. De acordo com o MPF, as buscas na casa de Serra poderiam “elucidar” uma transação de 326 mil euros da Hexagon para a Dortmund, para a compra e venda de “quatro Portinaris”.

“Assim, é possível esclarecer na busca se há a existência de lavagem de dinheiro em favor de José Serra por meio de obras de arte, com o respectivo pagamento no exterior, ou se trata-se apenas de uma justificat­iva formal para a transferên­cia”, afirmou a Procurador­ia. “A presença de obras de arte na residência de José Serra que possam ter sido utilizadas para a lavagem de ativos de origem ilícita não é, portanto, mera suposição, mas sim algo de alta probabilid­ade e que justifica a medida”.

O juiz aceitou os argumentos e autorizou as buscas contra Serra, destacando que “em algumas oportunida­des as operações financeira­s suspeitas apresentam como justificat­iva a suposta negociação de obras de arte”. O magistrado, porém, autorizou somente a busca por registros das transações, negando apreensão de peças artísticas.

Ao autorizar as buscas, o magistrado também destacou movimentaç­ões de contas da Dortmund a partir do pagamento milionário pelos “quatro Portinaris”, e apontou “indícios” sobre uso do dinheiro na compra de ações na bolsa.

No mesmo em dia que a PF conduzia a diligência, Serra foi denunciado por lavagem de dinheiro de propinas supostamen­te pagas pela Odebrecht no exterior entre 2006 e 2010, em troca de benefícios da obra do Rodoanel Sul. Segundo a Procurador­ia, o tucano utilizou “sofisticad­a rede de offshores” para dissimular o pagamento de vantagens indevidas da empreiteir­a. Os valores atualizado­s são estimados em mais de R$ 191,5 milhões.

Defesa. Em nota, a defesa de Serra manifestou “profundo repúdio à busca e apreensão”. “Se o Ministério Público entendeu, ainda que de forma equivocada, que havia razões para iniciar um processo, o que justifica, além da intenção de constrange­r, uma medida invasiva como essa?”, afirmaram os advogados Flávia Rahal e Sepúlveda Pertence, que defendem o senador tucano.

A defesa do empresário José Amaro Ramos também nega as acusações e afirma que os pagamentos feitos no exterior decorreram de contratos existentes entre a sua empresa e a Odebrecht sediada em Portugal, “sem nenhuma ligação com o senador José Serra”.

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PAULO GIANDALIA/ ESTADÃO - 2/4/2014 Pai e filha. O senador José Serra (PSDB-SP), ao lado de Verônica Serra

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