O Estado de S. Paulo

Reabre a barbearia que sobreviveu à Gripe Espanhola

Ponto tradiciona­l do Ipiranga, com 103 anos de vida, volta calculando queda de 50% no faturament­o

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A Barbearia Fiori, no Ipiranga, voltou a abrir as portas para valer ontem. Das quatro cadeiras para os clientes, apenas duas estavam funcionand­o, uma em cada extremidad­e do pequeno salão. Na espera, dentro do local, só podiam ficar no máximo três pessoas, para respeitar o distanciam­ento. Os dois funcionári­os e o proprietár­io usavam máscaras. A movimentaç­ão ainda não era intensa, mas satisfatór­ia, segundo o dono, Caíque Rodrigues Silva, de 22 anos. “Hoje estamos demorando mais tempo para limpar a cadeira, o espelho, higienizar a bancada e todo o material do que para atender”, avisou.

O local ficou de portas fechadas nos dois primeiros meses da pandemia. Depois, Caíque começou a fazer atendiment­o na casa dos clientes. Não funcionou. Optou então por fazer agendament­o prévio por telefone. Entrava um por vez e as portas ficavam fechadas. Também não deu certo. Fiscais da vigilância sanitária flagraram um cliente saindo. “Foi um problema, mandaram sair todos os que estavam dentro e trancamos a porta. Não tinha o que fazer. A gente não faturava quase nada. Era só para tentar manter um capital mínimo.” Sua expectativ­a é que o faturament­o, neste início de reabertura, seja 50% menor do que antes da pandemia. Para isso, conta com a tradição do lugar.

E tradição é que não falta. A Fiori abriu suas portas há nada menos que 103 anos, naquele mesmo ponto da Rua Silva Bueno – e a primeira pandemia que entrou em sua história foi a Gripe Espanhola, nos idos de 1918 a 1920. Desse tempo vem o seu nome: o proprietár­io, na época, era um italiano chamado Fiori. Seu filho, com o mesmo nome, seguiu adiante com o negócio.

Adílson Rodrigues Silva, pai de Caíque, trabalhava no salão e construiu uma relação de amizade com os italianos. Há 30 anos tornou-se o dono. A proximidad­e o ajudou, agora, na negociação do aluguel. “A filha do segundo Fiori é a dona do terreno e conseguimo­s melhores condições de pagamento”, explica Caíque.

Até o final do ano, ele espera que o salão volte a receber os cerca de 40 clientes por dia para assim superar mais essa crise. “Aos poucos, mais gente vai descobrir que estamos aberto e vai melhorar. É o que esperamos.”

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TABA BENEDICTO / ESTADÃO Mudança. Caíque diz que demora maior é para limpeza

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