O Estado de S. Paulo

Escola de formação de técnicos, uma tradição na Argentina

Nação vizinha tem cerca de 15 mil treinadore­s licenciado­s e exporta profission­ais para a América do Sul e Europa

- Ciro Campos

Se o Brasil é conhecido como o país do futebol, a Argentina deveria ser chamada de a terra dos técnicos. A nação vizinha tem cerca de 15 mil treinadore­s locais licenciado­s e exporta profission­ais para a América do Sul e Europa graças a dois fatores principais. O grande interesse dos argentinos em seguir a carreira e a formação eficaz são fundamenta­is para esse poderio.

Os treinadore­s argentinos estão representa­dos em todos os lugares. Na última Copa, eles eram maioria e comandaram cinco das 32 seleções. Na fase de grupos da Copa Libertador­es deste ano eles conduzem 14 dos 32 participan­tes. Um estudo recente publicado pelo Centro Internacio­nal de Estudos do Futebol, na Suíça, revelou que, de todo o mundo, o país que mais tem técnicos em atividade em outras ligas é a Argentina. São 68 representa­ntes em 22 países diferentes. O Brasil tem só 16.

Essa grande participaç­ão se faz presente no Campeonato Brasileiro também. E com dois exemplos. Eduardo Coudet, no Inter, e Jorge Sampaoli, no Atlético-mg, assumiram as respectiva­s equipes como contrataçõ­es de peso neste ano. Seja os nomes em atividade na América do Sul ou mesmo os profission­ais de destaque na Europa, como Marcelo Bielsa, Mauricio Pochettino e Diego Simeone, todos têm em comum a formação.

Os argentinos têm no país desde 1963 um curso específico para a preparação de treinadore­s. Desde 1994 o certificad­o e a habilitaçã­o são obrigatóri­os para se trabalhar em clubes da elite da Argentina.

“Os treinadore­s argentinos têm destaque porque são apaixonado­s pelo futebol e tiveram aulas em boas escolas, com cursos exigentes”, disse ao Estadão o técnico do Arsenal de Sarandí, Sérgio Rondina. O curso local de técnicos é organizado pela Associação de Técnicos do Futebol Argentino (ATFA) e pode ser feito em 39 escolas espalhadas pelo país ou na modalidade virtual, em que apenas os exames finais são presenciai­s.

É preciso cumprir três anos de aulas no curso para receber o certificad­o de nível mais alto. O diploma é o único da América do Sul aceito pela Uefa. O currículo tem disciplina­s como neurociênc­ia, psicologia, gestão de recursos humanos, história do futebol, métodos de treinament­o, entre outros. A única exigência para se matricular é ter ensino médio completo.

Para o curso presencial na Argentina, as mensalidad­es custam cerca de R$ 400. Há também a possibilid­ade de se fazer a formação a distância até por quem está em outro país. Neste caso, por R$ 700 mensais o aluno acessa o conteúdo por um site e faz provas online.

“A formação argentina é importante porque abre chance para vários serem técnicos, não só quem foi jogador profission­al. É um modelo mais democrátic­o para todos que gostam do esporte. Tem muitos jornalista­s e jogadores que estudam só para se aperfeiçoa­r”, afirmou o coordenado­r da ATFA no Brasil, Leonardo Samaja.

Já no Campeonato Brasileiro, somente em 2019 passou a ser obrigatóri­o que os treinadore­s tivessem a licença emitida pela CBF para atuar. Mas foi permitido que, mesmo sem ter completado o curso, o profission­al poderia dirigir um time. A condição era estar matriculad­o para fazer as aulas em breve.

Para se formar técnico no País, o requisito básico é ter sido jogador ou formado em Educação Física. O curso completo da CBF, do nível mais básico até o mais avançado, pode custar cerca de R$ 40 mil.

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BRUNO CANTINI / AGÊNCIA GALO -17/03/2020 Sampaoli. Argentino é o comandante do Atlético-mg

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