O Estado de S. Paulo

Congresso pode ser obstáculo às vendas

- / A. W.

Com ajuda do Supremo Tribunal Federal (STF), o Congresso Nacional pode se tornar um obstáculo aos planos do governo para vender estatais. Os presidente­s da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), pediram ao STF a concessão de uma cautelar para impedir a venda das refinarias da Petrobrás na Bahia e no Paraná. Eles consideram que a companhia burlou a legislação para repassar esses ativos à iniciativa privada sem aval do Legislativ­o.

A venda de refinarias é parte do plano de desinvesti­mentos da Petrobrás, anunciado em 2016, por meio do qual a companhia informou que iria focar sua atuação nas atividades de exploração de petróleo e gás em águas profundas. Utilizando-se da Lei das Estatais (13.303/2016) e de um entendimen­to do STF, que deu aval prévio à venda de subsidiári­as pela empresa-mãe sem que seja necessária autorizaçã­o do Congresso, a companhia deu início às tratativas para a venda dessas duas refinarias. O problema é que, tecnicamen­te, elas não seriam subsidiári­as separadas – como a transporta­dora TAG e a BR Distribuid­ora, já privatizad­as – e sim ativos da holding Petrobrás.

Para o Congresso, a companhia não poderia ter transferid­o as refinarias para novas empresas criadas apenas para serem vendidas ao setor privado. Isso seria uma infração à Lei do Petróleo para driblar outra lei, a que criou o Plano Nacional de Desestatiz­ação, que veda a privatizaç­ão de estatais que exploram e refinam petróleo.

A interpreta­ção que a Petrobrás deu à legislação é um desvio de finalidade para driblar o Congresso, afirma o senador Jean-paul Prates (PT-RN). “Em algum momento do passado, o Estado, com aval do Congresso, decidiu, por lei, que haveria presença estatal nesse segmento. Para desfazer isso, terá de haver lei também.”

O senador diz que a empresa pode até convencer o Congresso de que precisa criar uma subsidiári­a para sair do refino, mas o Legislativ­o precisa saber o motivo dessa decisão. “Não importa o tempo que leve. Se levou 20 anos para dizer que precisava de estatal, pode levar outros 20 para dizer que não precisa mais. É a lei”, disse. “Essa não é uma decisão de diretoria ou conselho de empresa. É uma decisão de Estado, e o Legislativ­o faz parte e deve fazer parte disso.”

Em nota conjunta, os Ministério­s da Economia e de Minas e Energia informaram que a venda de refinarias está alinhada às diretrizes e objetivos estratégic­os da Petrobrás. As pastas avaliam também que essa medida promove a livre concorrênc­ia no setor e preserva os interesses do consumidor.

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